[Click here for Crime is down in Rio state, to new lows]
O ano de 1991 no estado do Rio de Janeiro foi o de 1963 em Nova York
O secretário estadual de segurança pública José Mariano Beltrame declarou dia 31 de janeiro que os homicídios, assaltos, roubos de carro e outros crimes no estado atingiram no ano 2010 baixas inéditas — e que em alguns casos chegou-se a taxas recordes para o período durante o qual o estado mantém estatísticas confiáveis, desde 1991. O Rio de Janeiro metropolitano representa entre 75% e 80% da estatística estadual, de acordo com a assessoria de comunicação do secretário.
Os números da cidade de Nova York são confiáveis só a partir de 1963, embora os estados norte-americanos registrem seus crimes desde o século XIX. Como podem ser manipuladas, as estatísticas criminais são frequentemente questionadas. Mas a imprensa brasileira não tem duvidado dos números, que seriam resultado da política de segurança pública do governador Sérgio Cabral, no cargo desde 2007 e atualmente no início de um segundo mandato. Tal política é a de retomar territórios– tanto de maneira militar como em termos de serviços públicos– que por décadas ficaram à mercê de traficantes de drogas e outras autoridades informais.
O número mais marcante que se apresentou foi a taxa de homicídios, com uma redução de quase 18% em 2010 comparado com 2009, a uma taxa per capita de 29,8 p0r cem mil habitantes. Os números per capita refletem agora o censo mais recente; a população do Rio de Janeiro vem crescendo mais devagar do que se supunha.
Pelo bom trabalho, o governador anunciou ontem acréscimos aos bônus salariais para a polícia militar.
Beltrame mostrou-se bastante humilde em relação aos resultados que ele e as polícias civil e militar produziram no estado, dizendo que”os números ainda não são excelentes”, e que as “porcentagens serão mais e mais difíceis de abaixar com o passar dos anos”. A taxa de homicídio do estado de Nova York em 2009 foi de apenas quatro por cem mil habitantes.
Reduções também se observaram aqui em roubo de veículos, roubo de rua, latrocínio e autos de resistência.
Ao responder à pergunta de um repórter, Beltrame disse que não existe nenhuma prova de que os criminosos estejam fugindo da política dura da capital a procura de abrigo em outras partes do estado do Rio– ou seja, que o crime esteja simplesmente mudando de endereço. Mas ele observou que os únicos que podem estar migrando são os líderes, deixando para trás os soldados do tráfico. E são essas pessoas o alvo dos programas sociais estaduais e municipais, além daqueles das empresas particulares, que têm como objetivo fazer com que os números do crime continuem em queda. “Indiscutivelmente, à medida que chegam ações de outras áreas de estado, isso influencia muito a segurança pública,” Beltrame afirmou.
RioRealblog perguntou se o Rio aprende com as experiências de outras cidades, tais como Medellín, onde o crime caiu e depois ressuscitou. Beltrame não respondeu diretamente, mas disse que o Estado está sempre monitorando a política em termos de estratégia e execução, fazendo adaptações de acordo com as circunstâncias. É interessante notar que ele mencionou não apenas as 14 tão louvadas UPPs da cidade, como componente estratégico da política de segurança pública, mas também suas Regiões Integradas de Segurança Pública, que recebem bem menos atenção da imprensa. Essas regiões, criadas no fim de 2009, servem como meios de coordenação entre as polícias civil e militar no Rio, com base regional. Tradicionalmente a polícia civil fazia um serviço de investigação na delegacia, enquanto a polícia militar trabalhava nas ruas. Mas a divisão de trabalho evoluiu para feudos concorrentes, frequentemente com objetivos conflitantes. Agora, cada região tem metas– e as reponsabilidades ficam mais claras.
A polícia civil também criou, em março último, sete DEDICs, ou seja, salas de delegacia dedicadas ao atendimento ao cidadão. De acordo com esse post do site do jornal O Globo, o programa se caracteriza por uma mudança nos horários de trabalho dos policiais, que passam a trabalhar diariamente (em vez de em turnos de 24 horas seguidos de folgas de 72 horas, quando muitos trabalhavam fazendo bicos de segurança particular, o que criava amplas oportunidades para a corrupção e também interrompia a continuidade investigativa); e visitas domiciliares a vítimas de crime, marcadas pela Internet, para o preenchimento de formulários.
Possivelmente mais alentadora do que os novos números do crime foi esta afirmação do Beltrame: “As polícias mudam definitivamente sua lógica. Elas saem de uma lógica mais voltada para o combate, mais voltada para o confronto, para a guerra, e vêm para uma política de prestação de serviços. Mais de mil policias de UPP já agem dessa forma, a polícia dos DEDICs já agem dessa forma.”