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Tapete vermelho para o documentário Lixo Extraordinário
Já com o blockbuster Tropa de Elite 2 no circuito dos festivais Sundance e de Berlim, o longa-metragem de animação Rio e os preparativos para seu lançamento mundial em abril, o Lixo Extraordinário, do produtor Fernando Meirelles, foi selecionado mes passado para representar o Brasil no Oscar. O documentário, dirigido por Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, recebeu muitos elogios da crítica norte-americana, especialmente pelo tom positivo. Está atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros.
Nada mal para a cidade maravilhosa, mesmo que Hollywood e o mundo se lembrem mais do Rio de Janeiro pela sua polícia violenta e corrupta e seu horroroso aterro sanitário—do que como o cenário de uma linda história de amor de duas araras. As vendas de ingresso dirão.
Lixo Extraodinário é a história de como o artista plástico brasileiro Vik Muniz transformou o lixo em arte. Talvez tenha também transfigurado os catadores de lixo que ele conheceu no Jardim Gramacho, o aterro sanitário sobrecarregado, talvez o maior da América Latina. A reciclagem informal acontece no local desde sua criação nos anos 1970, à margem da baia de Guanabara no subúrbio de Duque de Caxias.
A Comlurb trabalha para reformar o aterro desde 1995 e já teve algum êxito. Mesmo assim, como o filme retrata, ainda existem legiões de catadores trabalhando em condições perigosíssimas. Pior, estudos de engenharia já condenaram o aterro por causa de uma instabilidade que poderia levar a deslizamentos de lixo decomposto na baia — um desastre ecológico em águas já muito poluídas.
Numa situação de risco semelhante à das construções informais que contribuíram aos recentes deslizamentos de terra na região serrana, causando mais de oitocentas mortes, ainda não se efetivaram medidas definitivas para lidar com a disposição do lixo de Rio de Janeiro. O problema se agrava com o crescimento da classe média brasileira e seu consumo desenfreado. De acordo com a imprensa brasileira, Gramacho deve fechar em 2012, depois de inaugurado um novo aterro em Seropédica. A reciclagem formal de lixo no Rio de Janeiro ainda engatinha. Esse site descreve o novo aterro e os planos para fechar o antigo.
A foto acima data de uma visita ao Jardim Gramacho há quase vinte anos, durante a Eco 92, a reunião mundial da ONU sobre o meio ambiente. Catadores vestindo apenas roupas íntimas separavam diferentes tipos de plástico, que eram então pesados no local e carregados em caminhões para serem enviados a fábricas. Naquela época, o governador Leonel Brizola se comprometera a fechar o aterro. “Para mim é como uma mãe,” lamentou um catador assustado, cujo barraco e pertences vinham todos do aterro. Já se tornou uma mãe fedorenta, viscosa e invasiva.