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Tão simples, tão difícil
Levou uma hora e meia para que 846 homens, 17 blindados e um helicóptero blindado ocupassem os nove morros do Complexo São Carlos domingo de manhã, sem o disparo de um único tiro. Região que abriga 26 mil moradores, até junho a área irá receber três novas UPPs.
Isso fará a soma de 17 unidades de polícia pacificadora no Rio de Janeiro. Até 2016, planejam-se 40 UPPs. A política estadual de ocupação e pacificação em territórios controlados por narcotraficantes e milicianos, cuja implementação iniciou-se no fim de 2008, energiza a reviravolta surpreendente pela qual a cidade passa, também alimentada pelo atual boom da economia brasileira.
As UPPs são tão queridas que a escola de samba do Salgueiro vai vestir alguns figurantes com fantasias do BOPE – e o presidente norte-americano Barack Obama, com visita ao Rio marcada para o dia 20 de março, deve visitar uma UPP, de acordo com a coluna de Ancelmo Gois no Globo de domingo. Para o RioRealblog não seria uma surpresa se visitasse a UPP no Morro da Providência. Pois é a favela mais antiga do Rio de Janeiro e possivelmente do Brasil.
Enquanto o BOPE e a polícia pacificadora fazem suas diligências e o Rio se prepara para o que pode ser o carnaval mais civilizado em muitos anos (a prefeitura organiza banheiros públicos e regula os blocos como nunca antes), a matéria de capa da revista Veja desta semana (não disponível online) nos lembra de uma verdade que seria mais conveniente esquecer: de uma cela de prisão federal no Paraná, o carioca traficante de drogas Fernandinho Beira Mar ainda estaria administrando seus negócios nefastos no Rio de Janeiro.
Sábado, ele foi transferido para uma prisão federal no Rio Grande do Norte, mas não se sabe se havia alguma conexão com a publicação da matéria de capa.
De acordo com a Veja, Beira Mar transmite suas ordens por meio de conversas durante o banho de sol diário com outros detentos e com visitas. Pode ser que ele tenha ordenado os incêndios de veículos que levaram à invasão e ocupação policial do Complexo do Alemão em novembro último. Aparentemente, as fontes da matéria são funcionários da prisão. Desde 2002, Beira Mar está cumprindo uma sentença de 120 anos por tráfico internacional de armas e drogas, homicídio, lavagem de dinheiro e outros crimes. Mas a lei brasileira protege seus direitos ao banho de sol e à visitas.
Se a Veja estiver correta, Beira Mar também tem responsabilidade pela epidemia de crack no Rio; supostamente seus homens introduziram a droga aqui depois que companheiros de cadeia paulistas o convenceram do potencial do negócio.
Pelo jeito, gastar algum tempo e dinheiro para mudar a lei pode ser tão benéfico quanto o novo helicóptero blindado Bell Huey Two, que custou milhões de dólares — e foi usado na campanha de domingo.