A morte do Gambá começa a se esclarecer

Jovens de favela passam por individuação

É quase um fenômeno geológico. As contradições violentas da cidade longamente partida chegam à superfície, à medida que o Rio de Janeiro se integra. Temos que lidar com elas– e suas consequências.

Gualter Damasceno Rocha, o Gambá, morava na favela Manguinhos, e dançava o passinho, uma forma de street dance. Tinha um estilo próprio, utilizando movimentos tidos como femininos. Quando o escritor Julio Ludemir organizou a Batalha do Passinho em setembro passado, no Sesc da Tijuca, Gambá ficou em terceiro lugar. Mesmo assim, foi ali que ficou famoso; desde então gravou uma participação no programa Esquenta! de Regina Casé, e dançou com Preta Gil.

A Batalha legitimou essa manifestação cultural que vem do morro, levando-a para o asfalto. Deu visibilidade a centenas de jovens que tradicionalmente ficam à margem. Eles mesmos, ao utilizar as ferramentas de mídia social, postando vídeos no YouTube, contribuíram à revelação.

Porém, de acordo com Ludemir, nem todos sabem lidar com a força pessoal que provém de tais novidades socio-culturais. Ele, que viu o boletim de ocorrência da morte do jovem de 21 anos, diz que o mais provável é Gambá tenha sido morto por seguranças de um posto de gasolina. O posto fica perto da favela onde o Gambá havia comemorado o Reveillon, num baile que terminou às sete da manhã.

“O B.O. menciona um desentendimento com Neide, uma balconista,” diz ele. “O corpo foi encontrado nos fundos do posto.”

Como era o costume entre os meninos, Gambá foi à loja de conveniência do posto depois do baile, para o café da manhã. Ludemir supõe que o desentendimento tenha levado a “um corretivo” que deu muito errado. Pois o B.O. diz também que o jovem morreu de um espancamento — e não de um tiro, como já foi noticiado.

Uma outra versão da morte é que um traficante teria matado o Gambá por ter dançado com a esposa dele.  Mas Ludemir supõe que um traficante teria sumido com o corpo, e que, sabendo quem era o Gambá, nem teria se atrevido a matar uma “celebridade da favela”.

Seguranças ou policiais (que muitas vezes são as mesmas pessoas), ele acrescenta, escondem documentos e providenciam um enterro às pressas.

Gambá foi enterrado como indigente cinco dias após a morte no dia primeiro de janeiro. O vídeo da câmera do posto não apareceu na mídia ainda.

Domingo às 14 horas, haverá o flashmob “o passinho da paz” no Arpoador, em homenagem ao jovem.

No mais, aguardamos a investigação policial.

Clique aqui para ver o programa Esquenta de Regina Casé, do dia 15 de janeiro 2012, dedicado ao Gambá.

Clique aqui para ler matéria do Globo sobre o passinho, que fala do Gambá e a falta de solução do caso.

About Rio real

American journalist, writer, editor who's lived in Rio de Janeiro for 20 years.
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1 Response to A morte do Gambá começa a se esclarecer

  1. fd says:

    gamba era pra vc ir com o seu irmao porque vc fes mau criacao meu jovem meu manor gambaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

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