Que tal repensar?
For Carnival 2013: straining sustainability, click here
As autoridades municipais divulgaram na segunda-feira que o Carnaval atraiu um total de 5,4 milhões de foliões. Desses, estima-se que 900 mil eram turistas (bem mais do que os 850 mil de 2012), 70 mil dos quais teriam desembarcado de navios transatlânticos.
Somente um bloco, o Cordão da Bola Preta, o mais antigo do Rio, levou aproximadamente 1,8 milhão de pessoas para um desfile de cinco horas, que virou caos no final.
Nas ruas, havia mais policiais militares, coordenadores de trânsito e guardas municipais do que nunca; mais banheiros químicos e mais latas de lixo também. Pela primeira vez, a Prefeitura cercou monumentos em praças, e plantas decorativas em meio fios da Zona Sul.
Grande parte da organização deste ano, inclusive as negociações de patrocínio, coube à Dream Factory, uma empresa de eventos que também será responsável pela visita do Papa e as atividades adjuntas em julho deste ano. A Dream Factory é presidida por Roberta Medina, filha do publicitário que inventou o festival Rock in Rio, nos idos da década de 80. Dois anos atrás, a Dream Factory fez parceria com o grupo de consultoria esportiva TSE International, sediado em Lausanne, na Suíça.
Pelo jeito, a Dream Factory pensou em tudo. Porém, como uma lembrança triste das cidades satélites de Brasília, dezenas de famílias pobres se mudaram temporariamente para a Zona Sul para suprir os foliões, dormindo em barracas ou em cima de papelão na praia, no meio fio, e nas calçadas. Um guarda municipal disse ao RioRealblog que a Secretaria de Desenvolvimento Social municipal, responsável pelas pessoas que moram nas ruas, não trabalhava durante o Carnaval. No entanto, o jornal O Dia afirma que 93 pessoas foram levadas para abrigos.
O metrô do Rio, uma concessão estadual, funcionou sem descanso ao invés de fechar à meia noite, mas não deu conta do movimento nos horários de pico, bloqueando entradas de estações e supostamente removendo extintores de incêndio dos vagões, para evitar vandalismo. Andar de ônibus em qualquer dia no Rio é uma experiência percussiva, mas chegou a ser assustadora durante o Carnaval, com bêbados fantasiados cantando e batucando na carroceria do ônibus, pulando a roleta e ameaçando os passageiros.
Nunca é demais
E a Comlurb, empresa de limpeza municipal, admitiu que subdimensionou o que as pessoas jogariam no lixo – e, portanto, o número de garis, que somou 1.700 homens e mulheres.
De acordo com uma pesquisa conduzida pela Consultoria em Turismo e Fundação Cesgranrio, um em cada quatro turistas mencionou a limpeza urbana como ponto negativo da experiência carnavalesca no Rio. Outras reclamações eram as diárias altas dos hotéis (38%) e o mau serviço de táxi (18%). Notavelmente, 75% dos entrevistados conheciam o Rio pela primeira vez. E eles tiveram a companhia de Kim Kardashian, Kanye West e Will Smith; Harrison Ford e família apareceram no último final de semana para o Desfile das Campeãs e uma visita a uma favela pacificada.
O Rio goza de uma certa elasticidade. Turistas lutam com máquinas de caixa eletrônico, emudecem com o nosso monolinguismo, são vitimados por motoristas de táxi, aturam péssimo serviço em restaurantes e penam com celulares – e, logo resolvem se mudar para cá. Os atores Monica Bellucci e Vincent Cassel são apenas dois dos mais recém-chegados.
Enquanto isso, moradores tradicionais das áreas onde os blocos desfilam não encontram alento ao esbarrrar com os famosos, nem na notícia de que a polícia prendeu mais de 800 mijões. Para eles, um mijão já é demais.
Reciclagem incipiente
Recicladores informais – alguns dos quais são as pessoas que dormiram na praia- catam e amassam logo as latas de alumínio, para vendê-las. Mas – recado para a Ambev – ainda falta encontrar um destino adequado para o plástico que embala as latas e o gelo que as mantém geladas, além de um monte, se não um Corcovado, de outros tipos de lixo.
Isso tudo chegou a 1.120 toneladas. Ou seja, o peso da estátua do Cristo Redentor.
Aproximadamente 500 blocos do Carnaval 2013 desfilaram todos os dias em diferentes partes da cidade, mas de acordo com a Prefeitura, houve uma redução de 2,3% de participantes nos blocos da Zona Sul. Mesmo assim, houve aumento de quase 30% do volume de lixo coletado em comparação ao ano passado, quando pouco mais de cinco milhões de pessoas curtiram Carnaval no Rio (um crescimento enorme, após 1,2 milhões em 2011).
Se a produção de lixo per capita tivesse sido a mesma de 2012, isso significava que 6,5 milhões de foliões agradeceriam aos céus por não ter chovido na semana passada – mesmo que uma boa chuva tivesse aliviado o calor – e o mau cheiro.
Porém, de acordo com a prefeitura, o número total de foliões não cresceu de maneira significativa de 2012 para 2013. Assim, só se pode concluir que cada um de nós foi mais porco neste ano do que no ano passado. Também somos culpados, de acordo com as autoridades, de ter festejado demais o Carnaval, pois eles reclamam que os blocos demoravam a dispersar no fim dos desfiles, dificultando o trabalho dos garis.
A maioria das latas era de cervejas da Ambev, conglomerado que patrocinou o Carnaval de rua no Rio (e que recentemente comprou a Heinz, em parceria com Warren Buffet). Segundo uma estimativa, os foliões de rua no Rio conseguiram beber 600 mil latas de cerveja por hora.
No ano que vem, cestas de lixo com rodas
De acordo com o jornal O Globo, a Comlurb planeja estabelecer parcerias com patrocinadores e blocos para aumentar seu exército laranja de garis, e investir em mecanização.
A Prefeitura afirma que o esquema de patrocínio para o Carnaval de rua, que neste ano arrecadou R$15 milhões, ajuda a pagar pelos banheiros químicos e coordenadores de trânsito, além do credenciamento e os uniformes de vendedores.
O presidente da Riotur, Antônio Pedro Figueira de Mello, disse que a Prefeitura “economizou” essa quantia, ao receber fundos da Ambev e de outras empresas.
Parece que eles não se dão conta de que quanto mais cerveja se vende, mais banheiros químicos são precisos; portanto, pode-se dizer que os patrocínios aumentam os custos da cidade. E esses custos provavelmente aumentarão todos os anos, à medida que mais e mais pessoas descobrirem os encantos da cidade – desde que aquela elasticidade continue a se esticar.
Uma proposta para pioneiros
Quem sabe no ano que vem, um bloco progressista como o Me Beije que sou Cineasta, que desfila na Quarta-Feira de Cinzas, na Gávea, poderia servir chope, e pedir que os participantes tragam suas próprias canecas de cerveja?
Uma leitora do blog lembrou que a Oktoberfest de Blumenau funciona desse jeito, e sugeriu que a venda de canecas comemorativas ajudasse os catadores, que iriam perder renda sem as latas.
Mas pode ser que os foliões já tenham encontrado a solução logística. Aparentemete as bebidas destiladas oferecem certas vantagens em relação à cerveja…
Tradução de Rane Souza
I think you’re being very generous — here in Santa Teresa, which is technically part of the Center — attendance was much higher than ever and yet this year there were fewer chemical toilets, fewer municipal guards, and a lot more trash — the neighborhood still hasn’t been completely cleaned up. No traffic plan, no clearing the cars out of Largo do Guimarães the night before. At the end of the events on Aterro a huge wave of people flooded Gloria and Catete — with no extra trains or buses or (seemingly) police.
Blocos are the best possible investment — they provide more than a week’s worth of virtually free entertainment for millions of foliões for almost nothing. It must be the cheapest show on Earth. They do all the work themselves and for a few hundred thousand the city provides one week of non-stop programming for audiences of more than one million! Ambev probably spends less on one night of television commercials — and this is all to sell its beer! Cheap publicity, licensed street vendors who (at least in Santa were only allowed to sell Antartica beer. )The number of people who attended Bola Preta was about the same amount that attends New Year’s on Copacabana Beach — just compare the amount of planning that goes into transportation, infrastructure and entertainment for the two events!
I wonder what would happen if the blocos in Santa Teresa were to refuse funding. No publicity in the newspaper, no listings, no cheap advertising for Ambev, no advance notice for when the Blocos will parade. With instant messaging and social media, nothing can be kept hidden for long, but I bet they’d be smaller, more manageable, more charming, and more local — aka more sustainable.
thanks so much for the input, Barbara. the comparison w New Year’s is very telling– maybe you want to post this on the English version, as well?