A verdadeira guerra no Alemão, diz um morador, é entre os bandidos fardados e os bandidos sem farda

No Fórum, moradores falaram as verdades deles para o Subsecretário Estadual de Segurança Pública para Educação, Valorização e Prevenção, Pehkx Jones
Sua blogueira anda muito ocupada com um livro que prepara, sobre o Rio de Janeiro metropolitano. Portanto, está escrevendo menos no blog e faltou com os leitores, deixando de fazer uma análise da explosão de violência que houve nos últimos meses no Complexo do Alemão.
No dia dois de abril, aconteceu uma espécie de estopim. O menino de dez anos, Eduardo Jesus Ferreira, foi morto barbaramente, por um tiro, enquanto brincava com um telefone celular numa escada de viela na favela, a passos de distância da mãe. De acordo com relatos de imprensa, um soldado da polícia militar disse, dias depois, que se supõe ter sido o autor do disparo, ao pensar, no calor da ação militar, que o celular era uma arma. O governador Pezão comentou que existem fotos de crianças com armas, e ordenou a “reocupação” do Complexo. Policiais militares se queixaram de péssimas condições de trabalho. O governador mandou instalar cabines blindados para que trabalhassem com maior proteção.
Um Fórum de quinta-feira à noite, juntando moradores, presidentes de associações de moradores, autoridades, policiais, estudiosos e outros — umas 120 pessoas, no total, por umas quatro horas de diálogo no bairro da Glória, foi uma ocasião imperdível para começar a falar do assunto, tanto para o blog como para todos.
O Fórum foi organizado pelo jornal O Dia, o grupo de pesquisas CESeC, especializado em juventude, polícia, violência e o sistema penitenciário, e o Instituto de Estudos da Religião, dedicado aos direitos humanos. Já há vários relatos sobre o evento, então vale mais destacar alguns poucos aspectos.
O passado de sociedade autoritária e escravista, com relações de dependência e desigualdade, pesa muito, hoje. Como é difícil mudar isso! Houve notícia de um toque de recolher imposto pela polícia militar, o que estaria atrapalhando a vida de trabalhadores e estudantes.
Não houve até agora uma interlocução real entre polícia e comunidade – Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência, na UERJ.
A democracia é pensar o bem comum, é tomar para si a responsabilidade de promover o bem comum, acima dos interesses menores. É fazer uma avaliação contínua dos interesses individuais versus o coletivo. É liderar mais e reagir menos. É cada um definir seu papel e cumpri-lo. Moradores disseram que o teleférico irá parar amanhã, dia 11, para “manutenção”, sem data para o retorno do serviço.
Todos os espaços culturais estão ocupados pela polícia […] o BOPE fica zoando os policiais da UPP. “Vocês não dão conta,” dizem, ao passar. – Raul Santiago, do coletivo de jornalismo Papo Reto, recentemente retratado no jornal New York Times.
Pezão deve montar um gabinete de crise no Alemão. — Junior Perim, diretor executivo da escola de circo Crescer e Viver.
Talvez a guerra seja entre bandidos fardados e não fardados — ou não. Mas a guerra, na qual morrem dezenas de pessoas inocentes, tem a ver com drogas. Não se está lutando por causa de uma religião, uma fronteira ou uma ideologia. As drogas acirram disputas de poder e território. É preciso morrer por causa de drogas? Um morador disse que o tráfico no Alemão é de varejo, que não há grandes traficantes lá.
Estamos aprisionados dentro de casa, esse é o pacto de paz do governador Pezão. A gente foge de bala toda hora — Kléber Araújo, comerciante.
A droga precisa ser descriminalizada. — André Balloco, do jornal O Dia
Sobre o Fórum, no site VozeRio Para assistir ao vídeo do diálogo inteiro Para aspas quentes e precisos (veja dia 9 de abril) Matéria em O Dia sobre o Fórum