Nosso olhar fica cada vez mais penetrante

O cabelo foi crescendo, conforme a identidade e o pertencimento foram se desenvolvendo, caso de muitos jovens no Rio
Algumas das pessoas mais atuantes na transformação do Rio de Janeiro se reuniram ontem, no topo do prédio da Universidade Cândido Mendes, para pensar o momento atual. A ocasião foi o lançamento de um guía de bem sucedidas práticas para o desenvolvimento social, nas favelas do Rio — resultado de um estudo levado a cabo pela London School of Economics, a UNESCO, e as entidades do Banco Itaú que lidam com as áreas social e cultural. O estudo focou na atuação de duas entidades pioneiras no setor, o Afroreggae e a CUFA.

Vivemos um momento novo — slide da apresentação marcante de Pedro Strozemberg, diretor executivo do ISER
Pedro Strozemberg, como se pode ver no slide dele, acima, fez um retrato certeiro de 2015, um ano em que, até o momento, já vivemos grandes dramas. Vale a pena notar que, até pouco tempo atrás, o quadro era diferente: poucas vozes se expressavam, não havia tantas conexões e dinâmicas como a Internet hoje nos oferece, os jovens falavam baixo, o quesito identidade/pertencimento era confuso, a carência tinha mais prioridade do que a qualidade dos serviços públicos, não se enxergava a possibilidade de redução de violência, e o diálogo era mais estreito.
Strozemberg foi além, no seguinte slide dele, sugerindo o que vem pela frente:
Do alto, contemplamos, o dia todo, a vista deslumbrante do Rio de Janeiro.
Washington Fajardo, porém, nos lembrou que a cidade acontece no térreo. Fajardo, que talvez carregue o cargo com o nome mais longo da municipalidade (Presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural), lamentou a nossa propensão para ainda cogitar a construção de uma nova Brasília, dependente do automóvel, como uma verdadeira possibilidade. Disse talvez apenas na hora que pudermos caminhar pela renovada frente marítima, sem a Perimetral, é que sentiremos na pele o estado deplorável da baía de Guanabara. “Precisamos reconstruir o primeiro andar da cidade”, reconheceu.
Fred Coelho, professor de literatura e artes cênicas na PUC, descreveu o novo ambiente na universidade privada, que hoje inclui, por meio de bolsas, estudantes de famílias pobres. O professor, disse, não é mais mediador. O aluno do Complexo do Alemão logo relata verdades para quem cresceu no Arpoador.
René Silva, fundador do jornal comunitário Voz da Comunidade, que surgiu há quase dez anos no Complexo do Alemão, fez as vezes dos jovens que estão mudando a cara cultural e psicossocial do Rio, seja como participantes de projetos de ONGs, seja como criadores de coletivos ou no papel de ativistas. Ele relatou a experiência de sentir o poder da mídia para expressar as necessidades dos moradores do Complexo. Já expandiu o jornal para outras partes do Brasil.
Bryony Duncan, coordenadora, relatou o sucesso do projeto Luta Pela Paz que, através do boxe consegue mudar as influências sobre jovens no Complexo da Maré e vários outros pontos do mundo.
O Diálogo incluiu dois policiais do Rio: o chefe do Estado Maior da Polícia Militar, Robson Rodrigues, e o major da PM Victor Fernandes de Souza. Deles, soubemos do reconhecimento de erros e dificuldades e um enorme esforço nas áreas de formação e comunicação. “A polícia tem um passivo com a sociedade”, disse Fernandes.

Sandra Jovchelovich, co-autora do Guia Prático ao Desenvolvimento Social de Base em Favelas do Rio de Janeiro e professora na London School of Economics: é possível suprir o que falta, do psicossocial/cultural, em comunidades pobres
Eduarda La Rocque, que moderou a conversa “Eu Tenho um Sonho”, falou do pacto que ela forja, com grande energia, entre governo, setor privado, universidades e ONGs. Os problemas são, afinal, de todos nós.
Ao descrever as mudanças no Rio, Sílvia Ramos, coordenadora do CESeC/UCAM, cientista social, fez coro às palavras de Pedro Strozemberg.
A Afrorreggae e a CUFA (e outros grupos), disse ela, “deram uma guinada radical” no Brasil, ao levantar, após as chacinas dos anos 1990, assuntos que o país não queria ver. Foram, acrescentou, uma espécie de founding fathers, ou visionários nacionais. Surgiu, enfim, a lógica da verdade.
Hoje é outro momento, de aprofundar as mudanças. “Nós não estamos dando nosso jeito,” ela observou. O programa Minha Casa Minha Vida, por exemplo, constrói números recorde de moradia. Sem discussão do projeto, porém. Portanto, acrescentou, diálogos como o de ontem são cruciais.
Ivana Bentes, Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, sentiu, nas falas dos participantes, a necessidade de políticas públicas que ajudem os atores na construção de andaimes psicossociais, facilitando redes e compartilhamento.
Muito bom…
obrigada!