Teremos um Marcelo como prefeito no Rio a partir de 30 de outubro, data do segundo turno. De sobrenome Crivella ou Freixo? Dependerá do grau de medo ou da vontade de aventurar, dos cariocas. Quem procura ordem e tomada de decisões racional, num contexto de crise financeiro estadual, desemprego alto e taxas crescentes de crime, irá votar no conservador PRB, do senador Crivella. Para quem prioriza direitos humanos, a redução da desigualdade social e a participação comunitária, a escolha certa será o PSOL, do deputado estadual Freixo, ocupando o lado esquerdo do espectro partidário.
Os eleitores certamente não queriam a continuação do PMBD, do prefeito atual, Eduardo Paes, que recebeu 16% dos votos validos. Parece ter pesado bastante a história de que o candidato Pedro Paulo teria batido na sua então mulher.
Apesar de ter sido ministro de Pesca no governo da ex presidente Dilma Rousseff, Crivella votou pelo seu impeachment. O apoio dele tem raiz na evangelica Igreja Universal, e na ligação com o partido clientelista do ex governador Anthony Garotinho. Freixo votou contra o impeachment de Rousseff; seus eleitores tendem a acreditar que o atual presidente, Michel Temer, chegou ao poder por meio de um golpe da direita.
Notavelmente — nos tempos da Lava Jato — o maior vencedor nas eleições de ontem foram aqueles que selecionaram candidato nenhum : 38% dos eleitores (a soma das abstenções mais votos nulos e brancos). Em contraste, Crivella teve 28% dos votos válidos; Freixo recebeu 18% (esses números são porções até menores, do eleitorado como um todo).
As opções do 30 de outubro são tão marcadamente opostas que poderemos ver mais nulos, brancos e votos justificados naquele dia.
A confiançã dos eleitores em políticos está baixíssima, porém quem votou em vereador demonstrou algum grau de apoio por rostos novos — apesar das novas regras eleitorais favorecerem aqueles já no cargo. Todos os 51 vereadores se candidataram novamente, mas apenas 33 tiveram êxito. A taxa de reeleição caiu para 35%, de 41% quatro anos atrás.
Quem chegar à prefeitura terá menos facilidade com a Câmara dos Vereadores do que teve Eduardo Paes, durante seus oito anos de mandato. O PMDB dele perdeu oito de seus 18 assentos. Crivella teria apenas quatro; Freixo, seis. Se grupos que acompanham a Câmara, como o novo E Aí, Vereador? mantêm os olhos nos vereadores, essa mudança pode ser positiva para um debate mais séria de políticas públicas.
Ironicamente, sediar as Olimpíadas de 2016 pode ter atrapalhado os planos de sucessão de Paes. A prefeitura dedicou aos Jogos tempo, recursos humanos e dinheiro que, de outra forma, teriam tido destinos diferentes, assinalou José Marcelo Zacchi, diretor executivo da Casa Fluminense, durante uma conversa ao vivo pelo Facebook, ontem à noite, na redação do jornal O Globo. O eleitor talvez tenha reparado que, enquanto Paes construiu novas escolas, creches e BRTs, faltava-lhes qualidade.
De fato, RioRealblog soube, de fontes confiáveis, que foi apressada a implementação do plano de racionalização das linhas de ônibus (que terminou em abril), porque a equipe responsável também teve que criar o plano de transporte para os Jogos Olímpicos.
That’s it Julia. Parabéns!