
O proprietário de um restaurante, entre muitos, que fervem na hora do almoço na Cidade Nova, centro do Rio de Janeiro
O Rio acabou… só que não!
Por causa da abundância de arranha-céus novos, erguidos nos últimos dez anos, poderia se pensar que a Cidade Nova fosse mesmo nova. O nome do bairro, porém, remete ao século XIX!
É a sorte de quem trabalha nesses prédios essa condição de nova/não-nova. Pois os escritórios estão fincados pertinho de ruas tradicionais, até há pouco tempo na margem da vida urbana (exceto no Carnaval, por serem vizinhas ao Sambódromo).
No meio da crise, valorizamos as experiências mais simples da vida: um café entre amigos. Acontece que o empreendedor do Astúcia Coffee, o australiano Daniel Hobbs, apresentou à sua blogueira um morador de longa data do bairro, um diplomata suiça aposentado, Ferdinand Isler.
Não por acaso, o nome da urbanista amadora, a norte americana Jane Jacobs (autora de A vida e morte das grandes cidades americanas) logo surgiu na conversa, alimentada não apenas por café, mas também por um delicioso (e barato) bolo de banana, assado por uma vizinha do suiço. Ferdinand é um daqueles moradores cuja existência fortalece o tecido urbano: conhece todo mundo. Incorpora os “eyes on the street” (olhos para a rua) os quais a Jacobs identificou como sendo vital à saúde urbana.
Logo começou um giro no melhor estilo suiço-brasileiro: uma correria para conhecer os cafés e restaurantes antes do rush do meio-dia, pontuada por abraços, sorrisos e comentários sobre futebol e a indumentária do guia, Fernando. Aparentemente, ele costuma se vestir de maneira mais informal.
Sua blogueira ficou confusa, inicialmente, entre as palavras “confeitaria” e “confecção”. A confusão se desfez quando adentrou o casarão estreito, passou por bolos e tortas em vários estágios de elaboração, e chegou nos fundos, onde duas máquinas de costura estavam em plena ação.

Impossível esquecer do samba na Cidade Nova, onde fica a quadra do Estácio. Ali perto encontra-se a praça Onze, berço do samba, praticamente destruída por Getúlio Vargas em 1941.
Durante décadas, Cidade Nova era conhecida como zona de prostituição. Depois de ficar pronto o prédio empresarial “Teleporto”, em 1996, o então prefeito César Maia transferiu centenas de trabalhadores do sexo para a Vila Mimosa, perto da praça da Bandeira.
Um certo espírito transgressor ainda reina na Cidade Nova. Hoje, um restaurante de comida árabe faz uma mistura deliciosa em todos os sentidos.
Cidade Nova se renovou, é claro, em função do boom dos anos Paes-Cabral. Hoje, os empreendimentos fazem de tudo para atrair e manter a clientela: eventos, entregas, aulas de culinária, buffet, café da manhã, cestas.
Apesar do aperto no bolso, pode valer a pena furar a bola na qual tantos convivem, de Zona Sul/Centro. Que tal expandir a geografia e dar um confere na Cidade Nova, a próxima vez que marcar um café ou almoço? Veja mais fotos, a seguir: