Abrir um negócio no Rio de Janeiro não é para fracote nem bobão

Prepare-se de forma emocional, mental e financeira, diz o californiano Sam Flowers

For Opening a business in Rio is not for wimps or dummies, click here

Segundo numa série de perfis de estrangeiros que trazem seus sonhos ao Rio. O primeiro está aqui.

Como é que se faz negócios neste país? A ESPN norteamericana fez essa pergunta recentemente, em 2014 World Cup: Will Brazil Be Ready?

Com grande difculdade!

Sempre um anfitrião de coração aberto

O primeiro passo no caminho que vai de Santa Barbara, California até a rua Barão da Torre emIpanema se deu quando Sam Flowers tinha apenas dez anos, pedindo à mãe dele para deixá-lo aprender decoração de bolo. Isso levou a uma graduação em administração hoteleira na universidade Cornell, com o intuito de abrir um restaurante.

“A ironia é que aprendi o suficiente sobre esse tipo de negócio para me assustar profundamente,” confessa Flowers com seu sorriso cativante. Mesmo assim, enquanto ele fazia um MBA continuou a decorar bolos, com seus sonhos em banho maria, por assim dizer.

Durante os oito anos que exerceu cargos de administração executiva na Universal Studios, Flowers veio passar férias algumas vezes no Rio. “A primeira vez eu vim sozinho e choveu todos os dias. Não falava português,” ele lembra. “Mas eu nunca estivera em um lugar onde me sentia como mais um do povo na rua– num país de gente mestiça.”

Flowers passou 18 meses aqui em 2004-5, em parte para estudar português na PUC. Ele também investigou locais para um futuro empreendimento, alimentando ideias de biscoitos de chocolate chip, e o  brunch, refeição híbrida de fim de semana. Ao saber que se consegue um visto permanente quando se cria um empreendimento no Brasil, Flowers reservou o nome Gringo Café na internet. Então voltou aos EUA para desenvolver um plano de negócios e juntar os recursos necessários para realizar o sonho.

“Você tem que ter um plano B,” ele aconselha. “Com recursos suficientes para o pior cenário possível. A falta de recursos para imprevistos é um dos motivos mais comuns pelo fracasso de um restaurante”. De acordo com Flowers, nove restaurantes perto do Gringo Café abriram e fecharam nos dois anos que ele está atrás do balcão de seu diner. Um fluxo de caixa negativo por um período de um a três anos é típico para um negócio de restaurante, ele acrescenta.

Já é cobertura de bolo?

Quais são os principais problemas para um estrangeiro dono de restaurante no Rio de Janeiro?

  • Os clientes fogem de comidas desconhecidas; os brasileiros curtem crêpes e macarrão, mas têm pouca experiência com delícias como as maravilhosas panquecas de blueberry ou o comfort food (comida que dá conforto) macarrão com queijo
  • Rotatividade de funcionários; a atual taxa baixa de desemprego se traduz em treinamento de muitos cozinheiros e garçons, que logo partem para outros estabelecimentos
  • Alto custo de folha salarial, por causa dos impostos; “O peso é dramático,” diz Flowers. “E você paga imposto de renda, mesmo se estiver perdendo dinheiro!”

Faz tempo que economistas descreveram e lamentam o assim chamado Custo Brasil, que enfraquece a vitalidade dos negócios para todos,  não somente para os estrangeiros. Já se implementou algumas medidas para reduzir o tal custo em diversos níveis de governo. Porém falta fazer muito mais.

Contudo, comemora-se um aumento de quinze a vinte por cento na receita no segundo ano de vida do Gringo Café, comparado com o primeiro ano. Os preços altos nos cardápios cariocas até beneficiaram o diner, pois turistas e moradores fogem de restaurantes mais caros na avenida Visconde de Pirajá para encontrar refeições mais em conta nas ruas menores.

Quando Flowers começou a sonhar do Gringo Café, procurou alguém que pudesse lhe descrever todos os passos para fazer o investimento, conseguir o visto, e estruturar o negócio. Tal pessoa não existia, ele descobriu. Agora ele faz um pouco de consultoria nesse sentido para outros sonhadores. “Não tem como saber como vai ser o negócio até você estar imerso nele,” conclui Flowers — apesar de seu preparo minucioso. “Você tem que testar e fazer ajustes.”

About Rio real

American journalist, writer, editor who's lived in Rio de Janeiro for 20 years.
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2 Responses to Abrir um negócio no Rio de Janeiro não é para fracote nem bobão

  1. Ana Rosa says:

    Montar um negócio com uma proposta inovadora requer muita coragem.
    Parabens ao Sam!!!
    Ótimo artigo.

  2. Anna Carolina Berto Shyne says:

    Gostei do post! Já tinha ouvido falar do Gringo café, mas agora que conheci os EUA, quero visitar na próxima ida ao Rio!

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