Oba! Obama no Rio de Janeiro

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Uma benção das mais importantes

“Obama” e seus “guardacostas”

Domingo passado, havia fones de ouvido para a tradução do discurso do presidente norte-americano Barack Obama para um público de mais de 2 mil pessoas no Theatro Municipal, mas Rinaldo Gaudêncio Américo e seus dois guarda-costas (“Jack” e “Bauer”) os recusaram. Rinaldo estava vestido de Obama, e Obama não iria precisar de fones.

“Existe uma coisa que eu vejo no Obama, é uma simpatia, um carinho,” ele disse ao RioRealblog. Como Obama, também filho de um casamento misto, Rinaldo diz que sempre cumprimenta as pessoas na rua. “Faz uma diferença. E veja, ele está usando a mesma gravata, vermelha lisa!”

O Obama de verdade, subindo com entusiasmo numa plataforma no palco, era realmente simpático. Lançando mão do mesmo truque que os políticos brasileiros utilizam para se conectar com o público, ele começou com uma referência ao futebol. “[…] Quero fazer um agradecimento especial por estar aqui, porque me disseram que há um jogo do Vasco […]”

“‘Mengo!” gritaram alguns.

Aparentemente, os ausentes vascaínos tinham prioridades.

Pode ser que Obama não tenha acreditado quando a presidente do Flamengo, ao presenteá-lo mais cedo com uma camisa rubronegro personalizada, lhe contou que o Flamengo (que jogou depois de seu discurso) é o time carioca mais popular. Mas sabia muito bem como ganhar corações.

“Agora, talvez vocês saibam que essa cidade não foi minha primeira escolha para as Olimpíadas,” disse ele, fazendo referência à malsucedida candidatura de sua cidade natal.  “Mas se Chicago não pôde sediar os Jogos, não há outro lugar onde eu gostaria de que acontecessem, a não ser aqui no Rio de Janeiro.  E eu pretendo voltar em 2016 para ver o que vai acontecer.”

Chico Caruso, cartunista do jornal O Globo, entendeu o recado; sua charge de primeira página com o título de “Brazil-Obama Talk Show: Parte Final” mostrava o Obama se despedindo, prestes a embarcar no Air Force One, ao dizer “…e logo voltaremos!”. Impressiona bastante o fato de que um presidente norte-americano, atual ou ex, estará de vigilância. Certamente isso se junta ao apoio geral em prol da mudança aqui no Rio.

Enquanto o presidente falava, Rinaldo — motorista para repórteres da emissora de rádio CBN quando não está a caráter — se ajoelhou na frente de sua cadeira para agitar duas bandeiras, na esperança fervente de dar uma de doppelganger. Para ele, bastava que o Obama estivesse aqui para que ele também pudesse aparecer.

 

Espelho meu

Para os cariocas, a estadia presidencial na cidade – que incluiu uma visita à favela “pacificada” de Cidade de Deus – foi mais uma evidência de algo que eles já sabem há muito tempo: o Rio de Janeiro é um diamante bruto, em via de ser lapidado.

“Pela primeira vez, a esperança volta a lugares onde por muito tempo prevaleceu o medo,” disse Obama.  “Vi isso hoje, quando visitei a Cidade de Deus. Não se trata apenas do novo esforço de segurança e de programas sociais  — e quero parabenizar o prefeito e o governador pelo excelente trabalho que estão fazendo.” Ambos estavam presentes num camarote, e ganharam aplausos genuínos.

“Mas é também a mudança de atitudes,” continuou Obama.  “Como me disse um morador jovem, ‘As pessoas precisam olhar as favelas não com misericórdia, mas como fonte de presidentes e advogados e médicos, artistas, pessoas com soluções.’”

“Dilma” em Copacabana
Alguns manifestantes, na véspera, em Ipanema

 

No seu discurso, Obama não mencionou o fato de empresas americanas estarem ávidas para fazer negócios ligados às Olimpíadas e à revitalização urbana.  Mas para os cariocas, a escolha do Rio (e a exclusão de São Paulo) foi uma medida imediata e bem-vinda de quanto a cidade já progrediu  e de seu grande potencial. A família Obama não podia ter feito uma promoção melhor do turismo aqui, com uma visita ao Corcovado e presença em apresentações musicais e de capoeira, e também um pouco de futebol.

 

Ovação geral

Pobre Rinaldo não ganhou uma piscadela, um sorriso, nem um aceno, apesar de ter escolhido três lugares bem no centro da galeria, lá no alto do teatro recém-restaurado. “É difícil enxergar para além da iluminação, quando você está no palco,” ele filosofou.

O Obama verdadeiro também ofereceu um pouco de filosofia, terminando o discurso com uma citação de ninguém menos que Paulo Coelho: “Com a força de nosso amor, da nossa vontade, podemos mudar o nosso destino, e o destino de muita gente.”

Para a cobertura do Globo, clique aqui. Para um vídeo do discurso no Rio, em duas partes, clique aqui.


About Rio real

American journalist, writer, editor who's lived in Rio de Janeiro for 20 years.
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