De acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública, não existe comprovação nenhuma de uma explicação que moradores e frequentadores do Complexo do Alemão passaram ontem para jornalistas, pelo ataque anteontem à base Nova Brasília. A Polícia Civil não encontrou nenhum fundo de verdade na história (relatada no post de ontem) de que traficantes de droga teriam atacado a base, matando uma soldado, em represália por um malsucedido sequestro da esposa de um traficante; não há investigação em curso nesse sentido.
De acordo com a Secretaria, esse ataque faz parte de um comportamento de longa data, de intimidação por parte de traficantes da região. No mês de fevereiro deste ano, houve 87 ataques no local, quando o Exército estava no comando da área.
O Complexo de Alemão, invadido e ocupado pelo Exército no fim de 2010, passou ao controle das Forças de Pacificação, da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, no começo deste mês.
Se a história do sequestro é mesmo falsa, quem a inventou contava com a conturbada história policial do Rio de Janeiro como elemento a favor. E, no contexto de prisões neste ano de policiais de pacificação, por corrupção, não é difícil acreditar em teorias de conspiração. Tais teorias facilmente ganham crentes nesse país, onde em tantas esferas ainda falta um nível razoável de transparência e responsabilidade pública.
Vale a pena concluir esse post com o lembrete de que a pacificação é um processo. Traficantes, moradores de favela, líderes comunitários, soldados, inspetores e comandantes policiais e até jornalistas– todos estamos aprendendo e aperfeiçoando novos comportamentos, numa sociedade em via de uma transição histórica.
Como conclui o novo estudo “‘Os donos do morrro’: uma avaliação exploratória do impacto das unidades de polícia pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro”, bancado pela Corporação Andina de Fomento, coordenado por Ignacio Cano:
De forma geral, a relação entre vizinhos e policiais ainda está carregada de desconfiança, quando não de estereótipos mútuos fortemente negativos, mas ela tende a melhorar com o tempo. Na verdade, as UPPs são um começo de um longo processo de aprendizado para ambas as partes, que envolve por um lado uma nova convivência mais estreita dos policiais com moradores de espaços populares e por outro a forma como os dois lados lidam com questões de segurança. Se os moradores precisam aprender a ir a delegacia para resolver conflitos internos, por exemplo, os agentes do estado precisam mudar de uma ação basicamente repressiva para um trabalho de prevenção e mediação. Do ponto de vista simbólico, ambas as partes se queixam de uma demanda de respeito não satisfeita pela outra parte, o que compromete a sua honra e, no caso dos policiais, a sua identidade profissional. É preciso que os termos mútuos do respeito esperado sejam renegociados através da interação.
O estudo examinou e analisou com muito cuidado e de maneira abrangente as estatísticas de crime. Também contém trechos significativos de entrevistas com moradores e lideranças de favelas, e com policias de UPP de diferentes níveis na hierarquia.
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