Não é de hoje que as Organizações Globo — fonte principal das informações no Rio de Janeiro — lutam para estancar uma perda contínua de audiência e leitores. Os jovens não lêem jornal e nem assistem televisão. O que fazer?
O nono congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que aconteceu na semana passada, em São Paulo, serviu de vitrine para novas práticas e visões jornalísticas. No contexto atual de amadurecimento democrática, essas práticas podem desempenhar um papel chave na transformação do Rio de Janeiro.
O blog já falou da responsabilidade e do potencial da mídia nesse contexto, na hora da saída de Gilberto Scofield da chefia da editoria Rio do jornal O Globo. Indicações de corrupção próximo ao gabinete do prefeito, reveladas na sexta-feira passada, demonstram fortemente a importância do papel investigativo da imprensa nas contas públicas. E é necessário manter o foco: em 2010, o jornal Extra já apontava um crescimento extraordinário nos bens do homem-forte do prefeito, Rodrigo Bethlem.
As mesas do congresso trouxeram ferramentas de grande utilidade para o repórter que queira contribuir para uma democracia mais plena. Por exemplo, Gil Castello Branco, secretário geral da organização sem fins lucrativos Contas Abertas, ensinou como acessar e analisar dados governamentais. O site onde tudo começa é o Portal da Transparência. Incrivelmente, ainda existem dados do governo acessíveis apenas por meio de senha.
No painel sobre conflitos de interesse no judiciário, foi marcante, pelos casos descritos, a falta de consciência — ou atenção? ou preocupação? — entre os membros deste braço de governo. Aqui também, cabe à imprensa chamar, constantemente, a atenção da sociedade. Ficou claro que, enquanto o brasileiro depende de redes pessoais para enfrentar os desafios do dia a dia porque as instituições são fracas, as instituições são fracas porque o brasileiro prestigia demais essas mesmas redes pessoais.
Às vezes, as redes — ou seja, os comprometimentos — da mídia tradicional limitam a capacidade de questionar autoridades, investigar e fazer denúncias. Portanto, na era da Internet, os jornalistas começam a apostar em mídias alternativas. Ponte, novo portal focado na segurança pública do estado de São Paulo, apresentado em um dos painéis, é um exemplo disso. Os fundadores, animados com a maior liberdade para trabalhar, contaram vários casos de abuso policial e de direitos humanos, cujos desfechos conseguiram influenciar.
Talvez a notícia mais animadora do congresso tenha sido a parceria entre o site de notícias norte americano, Vice News, e a YouTube. A Vice, que costuma oferecer reportagens e vídeos mais profundos e detalhados do que o noticiário tradicional, pretende trabalhar no Brasil, em inglês e português. Por enquanto, é pouco conhecida aqui.
Pelo que se viu no congresso, não mais teremos um noticiário monolítico, um cardápio diário criado por uma grande mídia eletrônica ou impressa, que nos apresenta o que deveríamos saber.

Era o Mappin, agora é outro estabelecimento comercial, seguramente ameaçado pelo comércio eletrônico
Em vez disso, o consumidor de notícias irá acessar uma variedade de informações em fluxo, tendo que escolher e priorizar por si mesmo — ou depender de indicações de amigos ou conhecidos nas mídias sociais. “O jovem de hoje é mais esperto,” Jason Mojica, editor-chefe do Vice assegurou, em reposta a uma pergunta do RioRealblog sobre a possibilidade de sofrermos de um vácuo de curadoria do noticiário. Como, por exemplo, se manter informado sobre o que realmente acontece no Rio de Janeiro?
Não é possível determinar se os jovens hoje são mesmo mais espertos do que os de gerações anteriores, mas o fato é que, face à importância reduzida das mídias tradicionais e ao apego crescente às mídias sociais, temos todos que aprender a pensar com senso crítico. Resta saber se os jornalistas desempenham plenamente o papel deles: ou seja, não apenas investigar, mas ir além das notícias cruas — para contextualizá-las dentro da atualidade global e do quadro histórico.
Também, o próprio jornalista precisa aprender a pensar: dialogar com todo tipo de leitor ou espectador, não apenas com aqueles que já enxergam o mundo do mesmo jeito que ele. Para tanto, é essencial posar para si mesmo as perguntas que os membros de sua audiência fariam.
Somente assim, o indivíduo se entende no mundo e contribui para uma democracia mais justa.
- Anunciou-se, durante o congresso, um novo prêmio para a cobertura jornalística sobre políticas públicas e legislação relacionadas ao tema das drogas, o Prêmio Gilberto Velho de Mídia e Drogas. Saiba como se inscrever aqui.
- Também, o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), que participou do congresso, promove este ano o 2º Prêmio de Jornalismo Mobilidade Urbana Sustentável. Saiba mais aqui.
- Para quem quer contribuir ao debate eleitoral, pensando políticas públicas, a Casa Fluminense realiza o Fórum Rio e o lançamento da Agenda Rio 2017 no dia 16 de agosto no Circo Crescer e Viver. Aberto a todos.
Muito bom. Vou espalhar.
obrigada!
Dear Julia, It would help a lot if you could send both the Portuguese and English versions at the same time, or had a button in each that would let the reader translate. Don’t you love suggestions that involve even more work on your excellent RioReal? Laura
Aw Laura, I wish! WordPress just isn’t set up for a bilingual blog. But you can press the delete button when it comes through in Portuguese… and I will send the English version of the last post, asap.