Assim falou o recém nomeado comandante interino da Polícia Militar, o coronel Íbis Silva Pereira, em uma entrevista com o jornal O Globo, ontem.
Depois de anos de investimento em reformas que, para muitos, deixaram a desejar, trata-se de um grande desabafo e uma grande aposta, ambos focados no âmago da transformação da cidade. Sem segurança pública, nada no Rio vale a pena — para ninguém.
As polícias brasileiras, compartmentalizadas por tarefa e parcialmente militarizadas, têm dificuldade em trabalhar em conjunto para solucionar crimes e reduzir as estatísticas. Também têm pouca experiência com a responsabilidade individual e a tomada de decisões.
Um relatório divulgado nesses dias pelo Forum Brasileiro de Segurança Pública alertou que o custo da violência chega a quase seis porcento do PIB — e que, em todo o país, A polícia brasileira matou mais gente em cinco anos do que fez a polícia norte americana em trinta.
É difícil saber porque o jornal não tenha dado mais destaque à declaração do coronel, que fica no cargo até janeiro, quando deve se tornar chefe de gabinete do também coronel Alberto Pinheiro Neto, que então assumirá o cargo de comandante.
Especialistas da área de segurança pública vêem a nomeação de Silva Pereira como uma surpresa agradável. Ele mesmo, comentam alguns, cogitava deixar a corporação em breve, pois representa a linha reformista que preza os direitos humanos e o policiamento comunitário, linha que estaria em conflito com uma filosofia bem arraigada de guerra contra o crime, num contexto de níveis preocupantes de corrupção policial.
A linha do novo comandante tem base numa tentativa anterior de reforma, nos anos 1980, durante o comando do coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira, quando Leonel Brizola era governador do estado. Cerqueira foi assassinado em 1999 no saguão de um prédio perto do aeroporto Santos Dumont — supostamente por um policial militar.
Silva Pereira disse ao Globo que pretende mudar o estatuto da PM, que data de 1981, “para aproximar ou, até mesmo, igualar a rapidez para punições e expulsões entre oficiais e praças, em caso de transgressões. A proposta é que o ritual de exclusão seja único, com os mesmos prazos e recursos”.
Ele já nomeou o coronel Wolney Dias para o posto de corregedor da PM, com o objetivo de de “aproximar a Corregedoria da PM de outros órgãos — como a Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança, a Corregedoria Geral Unificada (CGU) — e de entidades da sociedade civil”.
Parece uma ideia sensata.
Disse Silva Pereira que Dias também irá fiscalizar o trabalho de policiais e o cumprimento dos direitos deles, como férias e folgas.
O comandante interino propõe a criação de um programa de prevenção do uso de drogas em favelas com UPPs e o patrulhamento de ruas nas áreas formais da cidade em pareceria com a Guarda Municipal.
Resta saber se tanta praticidade encontra acolhimento nas batalhões da Polícia Militar.