Perspectiva para 2016: ameaças de terrorismo, escassez de luz e água, calor extremo e caprichos dos megaeventos

Na sala de crise com jornalistas estrangeiros, sexta-feira passada: José Mariano Beltrame, secretário estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o mais longevo de todos
Ao responder a uma pergunta sobre o que aprendeu dos muitos megaeventos no Rio de Janeiro durante os últimos sete anos, o chefe da segurança pública do estado falou primeiro de integração fina entre atores, planejamento, informação ágil e limpa, e a capacidade de antecipar fatos.
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Então o Beltrame falou do Papa Francisco. Sua estadia no Rio, em julho de 2013, aconteceu entre manifestações de rua, chuva, lama, um problemaço no metrô e a mudança de última hora em local para a enorme missa campal. “É preciso poder trabalhar com pessoas flexíveis”, disse Beltrame. “Estava tudo planejado e daí no dia seguinte, era tudo diferente”.
Para a frustração de muitos estrangeiros, os brasileiros, em geral, dispõem de bastante flexibilidade. Como, contudo, lançar mão tanto de planejamento quanto da flexibilidade, no caso de eventos extremos, inesperados? Aqui e fora do país, os tais cisnes negros tendem a se tornar quase ordinários.
Beltrame disse que esperava que o terrorismo durante os Jogos Olímpicos fosse a primeira pergunta dos jornalistas. Apesar de o Brasil ter sido, até agora, território bastante seguro nesse quesito, os ataques em Paris levantaram a possibilidade assustadora de que os conflitos internacionais encontrem um palco aqui. Beltrame indicou, contudo, que até agora o governo federal nada mudou nos preparativos em curso. Já era prioridade a ameaça do terrorismo, disse, e o governo estadual do Rio aguarda qualquer orientação adicional do Ministério da Defesa, da Polícia Federal, e da Abin.
Para a segurança olímpica, o Rio conta não apenas com suas forças policiais de 63.285 homens e mulheres, mas irá também receber reforços da Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal (responsável pelas Linhas Vermelha e Amarela e a Avenida Brasil), as Forças Armadas, a Guarda Municipal, a CET e os bombeiros.
RioRealblog perguntou a Beltrame sobre outro cisne negro: a já crónica falta d’água em grande parte do país, que neste verão pode afetar nosso quadro energético. Ele não se mostrou preocupado pela necessidade de uma resposta policial no caso de violência social advindo de uma escassez de água (“As barragens não estão bem, já?” perguntou, na verdade querendo fazer referência aos reservatórios, talvez distraído por outra terrível ave de plumagem escura, o rompimento da barragem da Samarco em Minas Gerais, dia 5 de novembro). Mas aquele cisne é mais cinza do que negro. A escassez começou em 2013, foi ignorada em todo o país durante a época eleitoral de 2014 e não, os reservatórios do Rio não estão nada bem. A situação aparece diariamente na coluna direita da página home do jornal O Globo, e mais detalhes estão disponíveis aqui.
Beltrame falou que luz e água são responsabilidades da prefeitura e da Cedae, e acrescentou que a questão pode surgir numa reunião futura com autoridades municipais e estaduais, nos encontros que acontecem de quinze em quinze dias.
Nesses últimos meses de preparação para os Jogos Olímpicos, o secretário já tem o bastante para fazer, sem crises imaginadas e não imaginadas. Enquanto o estado do Rio luta para cumprir com suas folhas de pagamento, ao passo que encolhem as receitas de impostos e royalties , parece que um terço de nosso efetivo policial sofre de distúrbios psicológicos — sem recurso a tratamento adequado.
Leia a reportagem do jornal O Globo, sobre a coletiva, aqui.