Há lógica alguma? Jovens debatem política e consciência política

Moradora da Vila Kennedy, Carol Santana conta como funciona o Festival Todo Jovem é Rio, organizado pela Agência de Redes para Juventude
O sangue novo vem aí. Eis um dos recados da tarde de quinta-feira passada, no Rio de Encontros, um grupo singular de debate, que se reúne mensalmente no Museu de Arte do Rio de Janeiro, o MAR.
Isso, num contexto de poder contestado entre grupos no Rio de Janeiro, de acordo com o cientista político Francisco Mendes Guimarães, fundador do Instituto GPP. Surge nova energia também pela Casa Fluminense, que trabalha em conjunto com a Fundação Cidadania Inteligente, para fomentar a participação política, numa plataforma prestes a ser lançada, Rio Por Inteiro.
Talvez não seja tão aparente já em outubro, mas as novas gerações se mobilizam para fazer parte do debate público de forma mais preparada. Até agora, o Festival Todo Jovem é Rio juntou 1.600 jovens, que se encontraram para conversar em 80 casas particulares. Os mesmo números devem se repetir neste ano.
“Os jovens acham que a política é coisa burguesa,” disse Carol Santana, 24 anos. Ela, que tem um projeto para crianças vulneráveis onde mora, na Vila Kennedy, também achava isso– até ser recrutada, ano passado, para hospedar na casa dela um bate-papo de jovens, pelo Festival Todo Jovem é Rio, da Agência Redes para Juventude. Cria do agitador Marcus Faustini, a Agência surgiu em 2011 como uma espécie de incubadora de startups de jovens de favela, com recursos da Petrobras. Diante do quadro novo da crise, deu uma guinada, de grande relevância para todos nós.
Os encontros apartidários de jovens, em vez de pregar verdades, levantam perguntas.
É possível uma pessoa da periferia (favela ou subúrbio) ser prefeito do Rio? Passa-se a discutir os pontos positivos e negativos dessa ideia. Muitos jovens desacreditam nos seus próprios pares. Acham que quem vem da periferia não tem estudo suficiente; que não seria capaz de conhecer a cidade toda, que tal candidato enfrentaria preconceito, racismo e falta de apoio; que seria corrompido e sofreria uma falta de acesso político e de verba necessária; e que, para avançar, teria que ser conivente com o tráfico de drogas.
Como lidar com tanta negatividade? Instigados, os jovens traçam estratégias. Algumas, até agora, contou Carol, seriam: tornar o debate político um hábito, formular propostas de integração entre cidadãos de toda a cidade, pensar o preparo político desde cedo, promover a imagem positiva nas redes sociais e estudar bastante.
Os jovens do Festival também apontaram suas maiores preocupações: segurança e educação.
Quando Carol relatou esses dados no Rio de Encontros, os participantes logo miraram a eleição presidencial. Os jovens presentes no MAR afirmaram que muitos da faixa etária deles votarão no Jair Bolsonaro. Será, dizem, por causa da preocupação com a segurança, a falta de instrução e informação, nenhuma experiência com o governo militar (que saiu do poder em 1985, bem antes deles nascerem), a vontade de ver uma mudança e por uma sensação geral de revolta. Veja a matéria de hoje no Globo, sobre a mesma previsão.
O cientista político Francisco Mendes Guimarães, especialista em análise de pesquisas políticas, mostrou, no Rio de Encontros, a probabilidade de grande número de votos brancos e nulos em outubro deste ano, algo que já vinha acontecendo em eleições passadas.
Fácil, de certo jeito, analisar o quadro presidencial, à luz desses dados e tendências. Difícil, a eleição local. Nem se sabe, ainda, os nomes dos candidatos a governador — e aqui falta um tão almejado outsider, papel que o Bolsonaro desempenha na corrida para Brasília. Mendes Guimarães indicou que aqui, tristemente, a política continuará a refletir a crescente e confusa mescla de poder entre traficantes, milicianos e evangélicos.
Como dar um reboot nisso? A Fundação Cidadania Inteligente, uma entidade que já trabalha no Chile, se aliou à Casa Fluminense. Juntos, investem no papel da Casa (um de muitos), de fomentar e encaminhar propostas de políticas públicas a candidatos. A Plataforma Rio por Inteiro, a ser lançada dia 23 de junho, no próximo Fórum da Casa, receberá propostas de indivíduos, grupos e organizações da sociedade civil, disse Ana Carolina Lourenço, Coordenadora Executiva da Fundação no Brasil.
Nesse momento pré-eleitoral caótico, de greve de caminhoneiros e intervenção federal na segurança pública do Rio, com a morte da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes faltando elucidação policial e ainda, a perspectiva de uma greve nacional dos petroleiros, é no mínimo alentador ouvir jovens conversando sobre o lugar deles no mundo. Que aconteça cada vez mais!
Muito bacana Julia! Saudades! Precisamos nos ver.Bjs,Tite Maria Cristina (Tite) de Lamare do Rego Barros
Obrigada, Tite!