Fora do gancho?
Um dos maiores problemas brasileiros é a multiplicidade de funções, a fragmentação. Pois é alentador ler no Globo de hoje que, no Rio, oito agências e três níveis de governo serão reunidos no novo Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) http://oglobo.globo.com/rio/mat/2010/09/13/comecam-as-obras-de-centro-de-controle-que-reunira-orgaos-do-municipio-do-estado-da-uniao-917619970.asp. Orçada em R$ 36 milhões, a construção do CICC no Centro da cidade começa neste mês e deve ser finalizada até março de 2011. Irá abrigar funcionários administrativos e de emergência da Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil, a CET-Rio, a Polícia Civil, o SAMU e a Polícia Rodoviária Federal. O órgão foi criado a partir de visitas a agências semelhantes em várias cidades do mundo: Nova York, Los Angeles, Washington D.C., Cidade do México, Roma, Madri e Istambul.
Finalmente, surge a possibilidade de que todas essas entidades possam começar a se comunicar.
Com quatro forças policiais distintas, podia-se pensar que o Rio de Janeiro já amarrara a questão de segurança pública, mas não. Há uma quinta: as milícias. Esses grupos assassinos e paramilitares monopolizam a venda de botijões de gás na Zona Oeste e extorquem pequenos comerciantes e cooperativas de transporte, em troca de “proteção”.
Talvez as milícias sejam um desafio maior para a Secretaria Estadual de Segurança Pública do que o despejo dos traficantes de drogas dos morros. Na semana passada, dois ex-PMs, presos por supostas ações ligadas à milícia na violenta Zona Leste, fugiram da cadeia. De acordo com uma versão da história, eles teriam escapado por um muro nos fundos da prisão que eles mesmos estavam reformando; de acordo com outra, publicada no Globo de hoje: http://oglobo.globo.com/rio/mat/2010/09/13/fuga-de-dois-ex-pms-do-batalhao-especial-prisional-bep-teria-custado-200-mil-917620942.asp, eles teriam pago R$ 200 mil aos guardas, para então sair pela porta da frente, em Benfica. Um dos dois seria o novo chefe da milícia na Zona Oeste (com uma arrecadação mensal estimada em R$2 milhões), agora que seu antecessor, Ricardo “Batman” Teixeira da Cruz, mais um ex-PM, está preso no Mato Grosso.
Esse tipo de comportamento levou o estado a empregar novos recrutas, recém-treinados e jovens, nas UPPs, as unidades de “pacificação” das favelas.
O CICC será construído perto da avenida Presidente Vargas, na Cidade Nova, local da atual revitalização relatada num post anterior: https://riorealblog.com/2010/08/22/whats-new-on-av-presidente-vargas-o-que-tem-de-novo-na-av-presidente-vargas/. Aí se encontra a Prefeitura e um novo centro de convenções http://www.ccsulamerica.com.br/. Também é onde fica o o Hospital São Francisco de Assis, hospital-escola construído em 1879 e objeto de reforma: https://riorealblog.com/2010/09/10/hospital-de-1879-pode-ser-restaurado-1879-hospital-may-be-restored/.
Além disso, é o berço do samba, o que é frequentemente esquecido, apesar de ser pertinho do Sambódromo, inaugurado em 1984. Na casa da Tia Ciata, na praça Onze, agora um mero nome de rua numa placa, Donga e Mauro de Almeida compuseram Pelo Telefone, em 1916. A praça Onze era o ponto de encontro dos residentes mais pobres do Rio de Janeiro, para desfilar e sambar no Carnaval, mas toda a área foi nivelada em 1941 para abrir caminho para a avenida Presidente Vargas (também foi reduto de imigrantes judeus). Quem sabe agora ela recupera algo da vitalidade perdida.
Ah, e qual era o tema do samba Pelo Telefone? O modo como a polícia telefonava para os apostadores fora da lei antes de baixar lá, para que pudessem vazar.