Papai Noël existe? O profissional e o pessoal no Rio de Janeiro

Seria melhor separar

Logo que o estado toma conta de territórios até então sob domínio de traficantes de drogas, surge a euforia. O convívio entre a polícia pacificadora e os moradores de favela é amigável. Policiais dançam a valsa com meninas debutantes do morro.

Em pelo menos um caso, um capitão da PM ficou de ajudar um ex-soldado do tráfico a arrumar emprego.

E José Mariano Beltrame, nosso querido Secretário de Segurança Pública, deu uma de Papai Noel, distribuindo presentes às crianças da recém-ocupada Vila do Cruzeiro.

Numa sociedade desigual e com instituições frágeis, as relações pessoais– e as emoções que surgem delas– são o fundamento de tudo o que o brasileiro preza e consegue na vida. Daí o calor humano  de fama mundial. Daí o slogan das Olimpíadas, viva sua paixão.

E daí um campo minado para o futuro da integração da cidade do Rio de Janeiro. Pois enquanto as emoções de um trabalho profissional no campo público resultam de performance, as emoções de uma atuação política resultam, além de performance, de show-business. E show-business, além de ser efêmero, acontece por meio de luzes e espelhos.

É assustadora, então, a notícia de que o secretário Beltrame possa se candidatar ao cargo de prefeito em 2012. No mínimo, precisamos dele no cargo atual, para que continue o excelente trabalho que vem realizando desde 2008.

Diz o colunista de O Globo, Zuenir Ventura, em sua coluna de ontem:

Uma das razões de José Mariano Beltrame ser hoje uma das personalidades mais queridas e respeitadas do Estado do Rio, recebendo aplausos por onde passa, é evidentemente o unânime sucesso das UPPs, mas é também a sua recusa em se meter em política ou deixar que a política se metesse em seu trabalho de pacificação das favelas. Sua conduta, suas escolhas e seus critérios foram sempre técnicos. Não se sabe de um comandante da PM ou de um delegado da Polícia Civil que tenha sido nomeado por indicação de deputados e vereadores ou para atender aos interesses deste ou daquele partido. Tão diferente daqueles tempos em que a Chefia da Polícia servia de trampolim para que seus ocupantes eventuais, com a promiscuidade e o apoio da banda podre, se candidatassem a uma vaga no parlamento. Alguns foram parar na Assembleia Legislativa ou na Câmara Municipal e depois até na cadeia. Outros conseguiram se livrar das grades.

Por isso, causa preocupação ouvir dizer que o governador Sérgio Cabral pensa em lançar Beltrame candidato à sucessão do atual prefeito no ano que vem. É possível que seja apenas uma especulação sem fundamento. Afinal, Eduardo Paes não há de querer abrir mão da reeleição, transferindo para outro a glória que lhe cabe como prefeito, que é comandar os festejos da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Tudo indica que ele vá desejar isso para ele. De qualquer maneira, em nome da paz — a candidatura do secretário seria um golpe nas UPPs — aguarda-se um veemente desmentido das partes envolvidas. Em recente entrevista a Paula Cesarino e Plínio Fraga, Beltrame respondeu assim à observação de que haveria muita pressão para que ele viesse a ser candidato: “Essa mosca ainda não me pegou, não.”  O “ainda” não chega a  tranquilizar. Eu preferiria que a frase terminasse por um “jamais me pegará”.

Com certeza, Beltrame, Cabral e Paes entendem que o trabalho duro de integrar a cidade do Rio de Janeiro apenas começou. E pode muito bem ser que o Beltrame nunca seja mordido pela tal mosca, pois numa entrevista recente o governador Cabral apontou seu vice, Luiz  Fernando Pezão, como sucessor, e se manifestou a favor da reeleição de Paes.

Para ter uma ideia do que pode acontecer se a política tomar conta da tarefa, leia esse post anterior. E para ler a avaliação de uma vereadora, do cumprimento das promessas de campanha de Eduardo Paes, clique aqui.

About Rio real

American journalist, writer, editor who's lived in Rio de Janeiro for 20 years.
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