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Quando se criou o RioRealblog em agosto de 2010 para cobrir a transformação do Rio de Janeiro, o tamanho da tarefa era impossível de se imaginar. E ainda faltam quatro anos até as Olimpíadas…
Ocorre atualmente uma quantidade enorme de atividades e debates– até mais do que um veículo de imprensa tradicional consegue cobrir. Assim, na ausência de uma grande equipe de blog, aqui vai um resumo parcial e ilustrado,feito por apenas uma mulher, do que acontece hoje em dia nessa grande correria urbana.

As secretarias municipais trabalham em equipe no Centro de Operações, mas as forças policiais-- entidades estaduais-- não fazem parte
Uma visita no fim de março ao Centro de Operações trouxe a notícia de que a polícia do Rio constrói seu próprio centro de operações a um quilômetro de distância, com data de inauguração para junho. E o motivo pelo qual não se tem ouvido falar de tampas de bueiro voadoras ultimamente? Durante os últimos seis meses, o município fez cumprir o requerimento que as concessões tenham autorização municipal para fazer excavações. A prefeitura agora fiscaliza, e tem mapeado praticamente toda e qualquer excavação da CEDAE, da Light, das TVs a cabo, da CEG e de telefonia.
Fãs cariocas de futebol falaram sobre o estado atual de quatro times locais, num debate do OsteRio. Conclusão: falta gestão moderna, e há enorme potencial empresarial.
Jovens munidos de máquinas fotográficas, sob orientação do fotógrafo radicado no Morro da Providência, Maurício Hora, têm andado para cima e para baixo nos canteiros da área portuária. Produziram uma documentação maravilhosa de um momento que logo será esquecido. Os trabalhos, colado de maneira lambe-lambe do lado de dentro e de fora de um antigo galpão do porto, podem ser conhecidos até 30 de abril.
No começo de abril, a premiada Zaha Hadid e outros arquitetos em visita ao Rio clamaram por um legado das Olimpíadas. O prefeito Eduardo Paes contou mais tarde ao RioRealblog que ele e Hadid conversaram sobre algo que ele chama de working architecture, pela qual, por exemplo, uma piscina olímpica não se torna um elefante branco. Em vez disso, será convertida numa biblioteca para uma favela perto do local.
Enquanto isso, o Comitê Popular Copa e Olimpíadas Rio se reuniu longamente num prédio abandonado pelo INSS e ocupado por posseiros , logo atrás do prédio da Câmara dos Vereadores, para planejar atividades de protesto a vários aspectos dos preparativos para os megaeventos. Na maioria estudantes universitários, irão organizar um debate nesta semana sobre violações de direitos humanos. Também conversaram sobre o futuro do Estádio de Maracanã, que no momento está sendo reconstruído pelo governo estadual. Já começõu o processo de licitação para a concessão de administração do estádio, e até agora apenas uma empresa, propriedade do magnata de energia e minério, o filantropo carioca Eike Batista, já demonstrou interesse sério. Mundo pequeno.
A Secretaria Municipal de Educação Claudia Costin e o especialista em educação Simon Schwartzman falaram sobre ganhos e desafios na sala de aula em outro debate do OsteRio. O foco está em português e matemática. Não é a toa que em dois debates anteriores, um sobre o trabalho da agência municipal de promoção de investimento RioNegócios ; e outro sobre o desenvolvimento do pré-sal, o que mais se ouviu foram lamentações sobre a falta de mão de obra devida à pobreza do sistema educativo.
Os serviços municipais estão perigosamente comprometidos e o investimento está concentrado demais na Zona Oeste, o arquiteto Sérgio Magalhães disse numa entrevista ao RioRealblog. A Zona Norte e o centro da cidade deveriam ganhar mais atenção. Como secretário municipal de habitação nos anos 1990, Magalhães concebeu e implementou o programa Favela-Bairro, precursor do atual programa de urbanização Morar Carioca. Ele também administrou o concurso de projetos urbanísticos para favela do Morar Carioca em 2010, que selecionou quarenta projetos para serem realizados. Por mais de um ano, esses não andaram– mas de acordo com Magalhães a demora se deve a uma sobrecarga administrativa e o Secretário Municipal de Habitação Jorge Bittar lhe disse há duas semanas que logo haverá um sinal verde.
Magalhães também teorizou que o tratamento desrespeitoso que os moradores de favela recebem durante o processo de relocação seria reflexo de uma atitude negativa sobre as favelas por parte da classe média, com raizes nos anos 1980, quando a cidade informal começou a representar violência e crime. As alternativas de moradia oferecida pelo governo dão pouco peso a uma forte cultura de comunidade presente nas favelas. Elas ocupam apenas seis por cento do território da cidade do Rio de Janeiro, mais abrigam vinte por cento da população.
Por último, Magalhães afirmou que nada menos do que 70% dos doze milhões de habitantes da capital não possui saneamento adequado…
Pela primeira vez, os cariocas dos mais variados segmentos sociais assinalam, a cidade se encontra diante de datas imutáveis. Secretário Municipal de Conservação Carlos Roberto Osório é um dos gestores que sentem a pressão. “Não dorme,” dizia seu subsecretário Joaquim Monteiro na última sexta-feira de tarde, durante uma inauguração de monumento que seguiu uma reunião com catadores de lixo no aterro sanitário de Gramacho (prestes a fechar e deixá-los sem sustento) e, mais cedo, a inauguração de uma quadra de vólei de praia no Batan, uma favela pacificada da Zona Oeste. “Não almocei,” resmungava um assistente.

A prefeitura restaura monumentos guardados por muitos anos, que lembram momentos gloriosos na história da cidade; à esquerda, a Perimetral, que será removida

Secretário e subsecretário, checando detalhes de última hora do mutirão de lixo nas favelas do morro de São Carlos
“Durmo sim, preciso dormir,” Osório dizia com uma risada no sábado de manhã cedo na Favela da Mineira, onde um exército de garis da Comlurb, marinheiros, fuzileiros navais, agentes de saúde, lideres comunitários e voluntários juntavam lixo, munidos de luvas amarelas e sacos de lixo. A TV Globo apresentava o mutirão– primeiro episódio numa série– na RJTV de meio dia. No meio da multidão em baixo do sol quente, notava-se a ausência de simples moradores de favela. “Isso é apenas o começo. Foram deixados de lado por tanto tempo, tiveram tão pouco acesso aos serviços municipais,” disse um representante da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos. “Dá para entender porque talvez não queiram participar.”
Quanto pode uma cidade se mudar? Tanta gente perde o sono para mudá-la. Mas a participação é limitada, como a revista Veja Rio desta semana evidencia, numa reportagem sobre um plano novo de metas municipais, parcialmente elaborado por 150 cariocas notáveis. Nenhum deles mora em favela.