Pacificação e livros = FLUPP

For Pacification and books = FLUPP, click here

O Rio de Janeiro sempre foi uma cidade de encontros. E agora temos mais trocas ainda, por causa das mudanças que acontecem aqui.

Há anos que a FLIP, a festa literária anual que acontece em Paraty pelos últimos dez anos, leva autores ao Rio para apresentações pós-festa. Mas esse ano marca o debut de autores em eventos literários de favela.

“Esse é o primeiro lugar que estive onde vejo pessoas que se parecem comigo,” disse Teju Cole, o escritor, fotógrafo e historiador de arte nigeriano-norteamericano, varrendo o público com os olhos num auditório da favela Morro do Cantagalo. A FLIP, que começou dia 4 de julho e terminou no domingo passado, atrai um público de classe média alta, predominantemente branco.

“Como preservar a cultura da favela, enquanto a pacificação se consolida?”

Segunda-feira, o editor da revista literária Granta, John Freeman, o escritor galês Cynan Jones,  a escritora cubana Zoé Valdez  e o autor paquistanês-inglês Hanif Kureishi se apresentaram em um encontro organizado pela FLUPP na favela do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa. Com recursos do BNDES, FLUPP é uma série de encontros literários e de workshops de criação literária que acontece desde abril nas favelas pacificadas do Rio.

Ontem, a conexão FLUPP-FLIP se deu no Morro do Cantagalo em Ipanema com Suketu Mehta, autor de Cidade Máxima, Bombaim, junto com Douglas Mayhew, um americano que mora no Rio e pesquisa um livro sobre favelas; e Luiz Eduardo Soares, antropólogo, ex-secretário de segurança pública e co-autor dos livros que levaram aos filmes Tropa de Elite I e II.

Julio Ludemir, um dos organizadores da FLUPP

Além de um público de maior variedade racial, a tarde também ofereceu um concurso de rap freestyle no qual Teju Cole reconheceu sua música favorita (tocada por acaso), e atraiu participantes tais como o atual Secretário Estadual de Segurança Pública José Mariano Beltrame, o diretor da FLIP Miguel Conde, especialista em políticas de segurança e drogas Julita Lemgruber, e jovens ligados à Agência Redes para Juventude, um programa pioneiro para jovens, sustentado pela Petrobras.

Beltrame, com o filho nos braços

O público e os autores debateram muitos aspectos da pacificação e a integração urbana no Rio de Janeiro, tanto o lado positivo como o negativo.

Cole aconselhou os escritores locais a contar suas histórias com matizes, da maneira mais complicada possível. O objetivo é combater a tendência daqueles que chegam de fora a simplificar a realidade. “Ninguém pode contar sua história por você,” ele avisou.

Mayhew se interessou nas favelas– e já pesquisou 80 delas até agora, com seu parceiro de texto e fotografia Marcelo Castro– quando trabalhava como voluntário no Hospital Miguel Couto. “Vi uma criança que levara uma bala no braço. O traficante não o deixou ir para o hospital porque os pais não obedeceram uma regra dele,” Mayhew relatou. “Era castigo.”

Teju Cole e Douglas Mayhew dão conselhos

Mayhew sugeriu que todo o mundo deveria fazer questão de ir até uma favela, de conhecer essa realidade– apesar de cada uma ser diferente, com uma grande variedade de bairros e ruelas dentro de suas margens.

Mehta, cuja mesa na FLIP foi o assunto do último post do RioReal, disse que cidades tais como Lagos, Bombaim, e Johannesburgo estão de olho no Rio de Janeiro. ” Pelo mundo inteiro, há gente que está observando,” ele alertou. “Não temos que reinventar a roda quando se trata de trazer partes da cidade para o controle governamental. Assim que é muito importante que vocês acertem.”

About Rio real

American journalist, writer, editor who's lived in Rio de Janeiro for 20 years.
This entry was posted in Brasil, Transformation of Rio de Janeiro / Transformação do Rio de Janeiro and tagged , , , , , , . Bookmark the permalink.

Leave a Reply

Fill in your details below or click an icon to log in:

WordPress.com Logo

You are commenting using your WordPress.com account. Log Out /  Change )

Facebook photo

You are commenting using your Facebook account. Log Out /  Change )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.