A UPP ainda existe?

Teoricamente, sim

É isso que disse um morador de uma das favelas atrás do Leme ao RioRealblog, após presenciar o que chamou de “invasão” por integrantes do Comando Vermelho, na madrugada do dia 20 de janeiro.

[ATUALIZAÇÃO] Houve uma troca de comando na UPP desses morros na última semana de fevereiro. De acordo com a assessoria de imprensa da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, “O atual comandante da UPP Chapéu Mangueira, capitão Sérgio Stoll, vai se afastar para iniciar o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO), previsto na continuidade da carreira militar. Durante a ausência dele, o tenente [Rodrigo] Veillard vai assumir o comando da unidade sob supervisão do major Felipe Magalhães, ex-comandante da unidade”– mas a troca com certeza tem ligação com o assunto deste post.

Enquanto a polícia trabalha para controlar a situação em várias favelas com UPP, um repórter francês conseguiu permissão de traficantes que migraram de áreas pacificadas para um “subúrbio” não denominado, e filmou o dia a dia deles. O programa, muito bem produzido e com uma resposta do Secretário Estadual de Segurança Pública José Mariano Beltrame, se encontra neste link, e está em inglês.  E ainda, aqui está uma matéria da revista Veja sobre a condição de “cabeça de ponte” da UPP no Complexo do Alemão. Aqui, uma nova entrevista da Veja com Beltrame, que fala da situação nas favelas atrás do Leme; e mais uma matéria da Veja, sobre a nova unidade de inteligência nas UPPs.

O ponto dos policiais da UPP do Morro da Babilônia e Chapéu Mangueira

O ponto dos policiais da UPP do Morro da Babilônia e Chapéu Mangueira, num dia em dezembro 2012

Para a polícia, os relatos de moradores exageram os fatos, pois o medo é enorme de que tudo volte ao que era antes. Há violência esporádica em favelas com UPP, que leva a investigações, buscas, e outras ações, de acordo com a situação.

Os morros da Babilônia e de Chapéu Mangueira receberam a quarta UPP do Rio de Janeiro, em junho de 2009. Desde então, eles têm sido considerados um modelo de pacificação, atraindo visitantes nobres tais como o prefeito de Nova York Michael Bloomberg, durante a Conferência da ONU Rio +20; e o ator Harrison Ford com sua família, poucos dias atrás.

Em 2012, o Bar do David, localizado no morro de Chapéu Mangueira e famoso pela feijoada de frutos do mar, foi o primeiro boteco de favela a ganhar o concurso Comida de Buteco. A Babilônia também é exemplo do que pode ser feito em termos de eco turismo e reflorestamento, uma vez que a pacificação abre um território da cidade para todos. E o programa de urbanização Morar Carioca focou na área logo em 2009, com melhorias de drenagem, esgoto, abastecimento de água, reflorestamento, iluminação pública, contenção de encostas e abertura de espaços de lazer.

Só que, de acordo com esta reportagem e com relatos de moradores, a violência está voltando aos morros e de certa maneira ao próprio Leme, onde os valores imobiliários aumentaram muito em função da UPP na vizinhança.

Não é um caso aparte: de acordo com fontes citados no jornal O Globo, a pacificação no morro da Mangueira, Zona Norte, nunca chegou a se consolidar. Outra UPP bem problemática é a dos morros do Coroa, Fallet e do Fogueteiro, onde está sendo investigado um esquema de corrupção que veio à tona em 2011 .

Supostamente, criminosos da facção ADA ficaram no morro Chapéu Mangueira, trabalhando sem mostrar armas, após a pacificação. Até aí, nada de novo. O tráfico continua em toda a cidade, como acontece em praticamente qualquer metrópole do mundo. O propósito da pacificação não é acabar com o tráfico, mas retomar territórios e diminuir a violência.

O que houve no dia 20, de acordo com moradores, é que chegaram membros de uma segunda facção, a CV. “Eram três da manhã. Passaram por nós meninos do tráfico que a gente conhece, da ADA,” diz um morador. “Correndo. Atrás deles, um pequeno grupo de homens encapuzados, armados. Esses voltaram depois, para nos assegurar que não corríamos perigo.”

Essa fonte acompanhou uma pessoa do local em que estavam até o asfalto, passando pelo paradeiro usual dos policiais da UPP, em frente à quadra da FAETEC, na ladeira Ary Barroso. Mas policial nenhum estava lá.

Desde aquela noite, moradores dizem que não dormem em paz. “Houve toque de recolher para os moradores e na última sexta, 22/02, e domingo, 24/02, houve tiroteios às 19h e 21h, respectivamente,” diz um.

“Agora a noite não é mais dos moradores,” comenta outro.

De acordo com eles, a nova concorrência entre as facções levou a uma corrida armamentista. Desde de o fim de janeiro, à noite é comum ver fuzis AK47, pistolas e metralhadoras nos braços de homens do tráfico. “O CV invade um dia. Depois é a vez dos ADA,” comenta um dos moradores.

De acordo com uma fonte qualificada que não quis ser identificada, as tais batalhas noturnas se resumem a alguns tiros dados do alto do morro do Chapéu Mangueira.

“Um cara de uma facção saiu da cadeia,” diz a fonte, e outro, de outra facção, já estava traficando. “Um ameaçou o outro de morte.”

Para descobrir o que aconteceu no alto do morro, um inquérito foi aberto na 12a delegacia, em Copacabana.

Hoje, a Polícia Militar fez uma busca na mata a procura de armas e drogas, com o auxílio de cães farejadores, mas nada foi encontrado.

O problema no Babilônia/Chapéu Mangueira surge em um momento delicado da transformação do Rio de Janeiro, repleto de realizações e desafios. A aliança entre a prefeitura e o governo de estado não está tão firme hoje quanto cinco anos atrás, quando Eduardo Paes e Sérgio Cabral estavam em seus primeiros mandatos e a cidade começava a se transformar.

Agora, Paes está colocando lenha nos preparativos para os mega-eventos. Encontra oposicão de moradores e ativistas contra remoções demolições— mas já está reeleito.  Quem acompanha a prefeitura com um olhar crítico se preocupa sempre mais com uma falta de transparência, diálogo, e participação.

Cabral, responsável pela pacificação, perde força ao se aproximar da eleição de 2014. Enfraquece a aliança entre o PMDB dele e o PT na esfera federal, pois cada partido tem um candidato próprio a sua sucessão.

Enquanto isso, o Metrô avança, idem a revitalização do Portofalta água porque a Light cortou a luz da Cedae porém Light diz que a culpa é da Cedae, começou a internação forçada de dependentes de crackas tarifas de barcas e do Metrô aumentam, o governo de estado prepara a privatização do Maracanão primeiro de uma leva de novos museus está prestes a se inauguraro teleférico do morro da Providência idem, Eike Batista consegue fazer o que quer na Marina da Glóriaa baía de Guanabara aparentemente fica mais suja aindavem aí um novo Papa (junto com milhões de jovens peregrinos), e os vereadores, ah, os vereadores… reduziram a renda deles.

E, no coração de todas estas mudanças, boas ou ruins, reside a política de pacificação, já com 30 unidades e começando a adentrar o Complexo da Maré. A esta altura, as UPPs têm que dar certo. Que o diga os moradores apavorados do Chapéu Mangueira e Babilônia.

Veja a cobertura do Globo aqui.

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About Rio real

American journalist, writer, editor who's lived in Rio de Janeiro for 20 years.
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2 Responses to A UPP ainda existe?

  1. Marcio says:

    Pacificação pra inglês ver, típico de brasileiro (vide intérpretes do Brasil)

  2. Zezinho says:

    upp e uma piada!!!!

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