Eleições 2016: buscando o que já achamos

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Jean Lima, grafiteiro de Nova Iguaçu, pensando 2017

É o momento político mais complicado e sem precedente, de todos aqueles que qualquer um consegue se lembrar.

Não queremos mais do mesmo, não queremos corruptos, alianças escusas, promessas ocas.

Quem serve, então?

A dois dias do primeiro turno das eleições municipais, é uma pergunta comun.

Sua blogueira tem estado ocupada com o livro que escreve, sobre como o Rio realmente funciona.  Não é fácil saber — sempre há mais para descobrir.

O que dá para dizer, sem dúvida, é que vivemos em tempos bifurcados, de saltos para a modernidade e de comportamentos ultrapassados.

Ainda há quem investe na briga violenta por territórios.

Ainda há quem passa uma ideia empresarial para o governo, pensando que assim, tudo vai marchar direitinho.

E há, trilhando outro caminho, quem trabalha pela transformação do Rio de Janeiro, utilizando uma das armas mais potentes da humanidade: a informação.

Data Labe, uma inciativa no Complexo da Maré, de jovens de origem popular, está no momento mapeando veículos de comunicação nas favelas do Rio. Daqui a pouco saberemos muito sobre tudo o que se faz, nas áreas informais da cidade, para reportar  e publicar notícias.

A equipe Data Labe, com o apoio do Observatório de Favelas, a Escola de Dados Brasil e a Coding Rights, tem um canal no plataforma de textos Medium e já estudou os dados que as empresas de ônibus coletam referente aos passageiros. Além de servir de aviso sobre a questão de privacidade, a análise dos dados das empresas de ônibus traz um alento para quem, algum dia, procure saber os custos e as receitas delas. Somente assim é que será possível avaliar o valor da tarifa.

No Complexo do Alemão, também um local de tiroteios constantes entre traficantes e policiais, outro grupo de jovens espalha o que já aprendeu, nos últimos anos, sobre direitos humanos, vídeo como prova, segurança digital e fotografia. Com o apoio da Brazil Foundation, o Coletivo Papo Reto acaba de lançar sua pioneira Oficina de Beco.

Enquanto moradores aprendem a documentar a violência local, temos como saber dos tiros em todo o Rio de Janeiro.

Lançado em junho, o aplicativo Fogo Cruzado registra e mapeia os tiros no Rio de Janeiro, publicando os dados semanalmente e mensalmente. É uma iniciativa da Anistia Internacional.

Tais novidades trazem um certo consolo ao ambiente eleitoral. Muita gente fala de uma “volta do Garotinho”, com quem o candidato a prefeito Marcelo Crivella (líder nas pesquisas) fez uma aliança.

Anthony Garotinho e a mulher dele, Rosinha, ocuparam o cargo de governador nos anos antes de Sérgio Cabral, saindo do poder sob uma nuvem de condenações, investigações e acusações de crimes eleitorais. Um dos chefes da Polícia Civil dele, Álvaro Lins, foi condenado a 28 anos de prisão. O Rio vivia grande violência durante os governos Garotinho, tanto em favelas como no asfalto: o sequestro fatal do ônibus 174 aconteceu, no bairro do Jardim Botânico, em 2000.

Em 2002, depois da tortura e morte do jornalista Tim Lopes, nas mãos de traficantes no Complexo do Alemão, o jornalismo tradicional deixou de cobrir notícias de favela que não fossem de combate.

Os tempos definitivamente são outros, hoje, de mais informação e agilidade, maior organização comunitária, estudos mais bem munidos de dados e mais conexões atravessando a cidade toda.

Ontem, o jornal Globo publicou uma matéria sobre um novo estudo da Fundação Getúlio Vargas que aponta novos caminhos de políticas públicas para reduzir a violência. É a primeira vez que se cruzam dados do Disque Denúncia, do Instituto de Segurança Pública (ISP) e da Secretaria estadual de Administração Penitenciária. Fica evidente que é possível criar estratégias municipais, localizadas em territórios distintos, para prevenir o crime.

A matéria também descreve a nova Agenda Municipal de Segurança Cidadã, elaborada pelo Instituto Igarapé. As recomendações focam, novamente, na utilização inteligente de dados, além da integração de instituições e suas atuações — e a mediação de conflitos.

Nessa metrópole de preocupantes avanços e atrasos, é certo que as novidades nas áreas de direitos humanos, mídia e participação comunitária que surgiram na última década não irão sumir em 2017, mesmo que um candidato de crenças e comportamentos mais tradicionais vença a eleição. Fazem parte, inclusive, como se viu num post anterior, de uma tendência de longo prazo.

Também existe mais informação disponível, sobre a força policial no Rio. Um estudo recém publicado pelo Laboratório de Análise da Violência, da Uerj, dirigido por Ignacio Cano, em conjunto com Beatriz Magaloni, da Stanford University, descreve as profundezas da cultura de violência entre policiais — e o grau de apoio deles (62% dos mais de cinco mil entrevistados) pela falida Guerra às Drogas.

Temos até uma iniciativa para acompanhar a Câmara dos Vereadores, uma das instituições mais problemáticas na elaboração de políticas públicas que visam o bem maior. Nessa eleição, temos uma gama de candidatos alternativos. O leitor se lembrará em quem votou? 

Afinal, precisamos conhecer nossa cidade para trabalhar em prol dela.  Quanto conhecemos ? Faça um surpreendente teste, aqui.

Ah, para quem não se informou ainda sobre a triste situação das contas municipais, está aqui nosso post sobre elas.

About Rio real

American journalist, writer, editor who's lived in Rio de Janeiro for 20 years.
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