Enquanto você assistia à Copa, parte III (final)

Aconteceu muita coisa no Rio, durante o mês da Copa

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Durante séculos, o Brasil foi um país relativamente fechado, de olho em si mesmo, cujos cidadãos, na maioria unilíngues, viajavam raramente e consumiam poucos bens importados.

Há mais ou menos uma década, o quadro começou a mudar. A experiência de sediar a Copa déu ímpeto novo ao processo de abertura. Mesmo para quem não se misturou com os quase 900 mil turistas (sendo metade estrangeiros– e o total, praticamente o mesmo número que costuma vir para o Carnaval) no Maracanã, na Zona Sul ou nas favelas que hospedaram os visitantes, a Copa trouxe aos brasileiros mais informação sobre o mundo, pela mídia eletrônica e a impressa. Talvez o legado mais importante do evento seja esse.

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Torcedores pelo Team USA no Gringo Café atraíram jornalistas brasileiros e americanos, à procura de gritos e lágrimas

Ninguém imaginava

No calçadão de Copacabana, um senhor de Bangladesh fitava o mar. Quando perguntado para qual país ele torcia, puxou o canto da camisa amarela da seleção brasileira que usava. “Fabricamos elas no meu país,” falou, sorrindo.

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No Pão de Açúcar, tudo andava muito bem, como foi o caso, para a surpresa de todos, praticamente na cidade inteira

Se você ficava procurando por gols

Como já se viu em posts anteriores, jovens bailarinos do passinho se apresentaram durante o mês da Copa no show Na Batalha. Estão em Nova York nesta semana, junto com a apresentação do fabuloso documentário sobre o passinho, de Emílio Domingues. O jornal Globo demitiu o editor da seção Rio, Gilberto Scofield, oferecendo uma oportunidade para  algumas reflexoes sobre a cobertura local. E houve uma apressada (e possivelmente, ilegal) audiência pública, um dia após a final, sobre um projeto de melhorias urbanas no valor de R$ 1,6 bilhões, denominado PAC II, para a favela da Rocinha.

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Hesitação inicial e depois curtição da Copa, para a maioria dos brasileiros

O que mais aconteceu durante a Copa?

Enquanto a prostituição bombou na Zona Sul, houve pouco negócio de sexo no resto da cidade. Ao contrário da Jornada do ano passado, com a visita do Papa, quando os peregrinos percorreram a cidade toda, o turismo da Copa do Mundo focou na Zona Sul, paraíso para quem chegasse com fundos parcos — com o telão da FanFest em Copacabana, uma abundância de lanches e bebidas baratas, e a praia de banheiro. O prefeito Eduardo Paes tomou um susto com a chegada de centenas de argentinos, de carro e motor home, acampando no Leme. Foram transferidos para o Sambódromo.

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Inocência antes da perda fatídica, num bar de Santa Teresa

Com exceção do Sambódromo, o Maracanã e o telão tradicional do Alzirão, poucos locais das zonas norte ou oeste atraíram turistas. Um número considerável se hospedou em favelas como a Rocinha e o Vidigal.

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Antes do intervalo, quando o Bar do Gomes se esvaziou, com o placar 5-0, Alemanha

Os moradores do Complexo do Alemão e da Rocinha viram mais tiros do que turistas, em alguns dias. Uma versão do que aconteceu na Rocinha é que traficantes, que normalmente ficam no topo de um morro, teriam descido para assistir a jogos da Copa, junto com outros moradores – – para a surpresa da polícia pacificadora. Domingo passado, o jornal Extra reportou que a polícia pacificadora deixará de fazer patrulhas noturnas — decisão que talvez tenha motivação eleitoreira, para diminuir a violência nas favelas pacificadas até a eleição para governo do estado, em outubro.

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Os protestos e a reação da polícia (que, junto com o Exército e a Marinha, ocuparam a Zona Sul) seguiram um roteiro. Semanas antes, quando jornalistas assistiram a uma sessão de treinamento, foi fácil prever o desencadear dos eventos. Preventivamente, a polícia prendeu pessoas suspeitas de organizar violência e/ou protestos para o dia da final da Copa, e daí reprimiram com firmeza (e violência) a manifestantes na praça Saens Peña, na Tijuca. Ativistas de direitos humanos fazem uma campanha contra o que chamam de um estado de excepção inconstitucional, durante a Copa.

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Estão preocupados com a possibilidade de que a polícia volte a utilizar tais táticas em ocasiões futuras. As prisões, as acusações e a violência policial com certeza irão inibir manifestações de rua. É de se esperar que seja permitido organizar manifestações pacíficas — e também que os dissidentes brasileiro invistam no preparo de novas lideranças e na formação do eleitorado, entre outros requisitos para uma democracia saudável.

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Mais cedo, , inaugurou-se, com pouco alarde, o teleférico do morro da Providência, já pronto meses antes. Por causa de questões legais e de críticas por parte de moradores e ativistas, a inauguração havia sido adiada.

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Os partidos políticos tiveram suas convenções e escolheram seus candidatos definitivos para governador, que surgiram com alianças bastante estranhas, demonstrando a fraqueza de uma democracia baseada mais em personalidade e relações pessoais, do que em ideias e plataformas. No momento, o ex governador Anthony Garotinho e o ex senador Marcelo Crivella lideram as pesquisas de opinião, num empate de 24%. O atual governador, Luiz Fernando de Souza, o Pezão, está com 14%, seguido por Lindbergh Farias, com 12% das intenções de voto. Notavelmente, os votos em branco e anulados totalizam 23% do voto, agora.

O chute desta blogueira é que o voto a favor do Pezão irá crescer nos próximos meses, ao passo que ele vai se beneficiando da máquina política de seu partido e da exposição durante a campanha na televisão e no rádio.

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Camuflagem bem aparente

No começo do período da Copa, Pezão decretou aumentos de salário para funcionários públicos somando até R$ 1 bilhão por ano. Ele tem muito a ganhar da máquina política que herdou do ex governador Sérgio Cabral, que saiu do cargo em abril para deixar seu vice numa posição eleitoral mais confortável.

A campanha deve focar na pacificação, o coração do governo Cabral. De todos os candidatos, apenas Garotinho não pretende dar continuidade no projeto.

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Observando

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Alguém chamou?

Outra notícia que se perdeu no meio dos jogos de futebol foi de que a assembleia legislativa do estado, que funciona num prédio bastante feio, perto da praça Quinze e do Paço Imperial, irá se mudar para uma sede nova, perto da prefeitura e o Centro de Operações, na Cidade Nova. O prédio antigo será demolido e o Palácio Tiradentes, do lado (originalmente a sede do Congresso), será restaurado, criando um novo espaço beirando a baía, que não mais será divido pela Perimetral, recém removida.

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Muitos pais e filhos

Durante a Copa, O Globo também divulgou que, de 64 representantes estaduais, quinze deles mais do que dobraram seus patrimônios nos últimos quatro anos.

SONY DSCE agora será a vez dos Jogos Olímpicos, um evento para o qual muitos turistas da Copa pretendem voltar. Não deve ser surpresa, tampouco, ver um certo retorno para o Reveillon. Hora de fazer um estoque de limões

About Rio real

American journalist, writer, editor who's lived in Rio de Janeiro for 20 years.
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1 Response to Enquanto você assistia à Copa, parte III (final)

  1. Humberto Câmara says:

    Em relação ao Cabral, também acho que ele irá subir bastante nas pesquisas daqui pra frente. Com as campanhas nas rua e na televisão, o povo passará a conhecê-lo e reconhecê-lo mais. Ele ainda é tratado da forma que as pessoas tratavam o Cabral, ainda está na sombra dele. Não que ele seja santo, claro que não, mas que ele não chega perto do Cabral em relação a falcatruas não chega mesmo. Mas vamos esperar pra ver. Tomara que o Garotinho não seja eleito, porque ele sim é o pior pilantra de todos.

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